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“Revolução silenciosa”
Marcos Severine
Marcos Severine

Marcos Severine

Há dois meses, Marcos Severine tornou-se CEO da Brix, bolsa de energia que até 2012 tinha Eike Batista como sócio. Do polêmico empresário sobrou apenas um “x” no nome da companhia — que Severine garante derivar de “exchange”. Seis anos depois de criada, a Brix está prestes a iniciar o que o executivo chama de “revolução silenciosa”: a negociação de contratos financeiros de energia. A consequência imediata da estreia do produto é o aumento das operações com energia — calcula-se que o segmento financeiro possa movimentar um volume oito vezes maior que o mercado físico. “O segmento financeiro é muito mais líquido, com uma formação de preços bem mais transparente”, afirma Severine, que antes de assumir a função na Brix encabeçou a análise do setor de energia em bancos como J.P.Morgan e Itaú BBA. A seguir, os principais trechos da entrevista que o executivo concedeu à SELETAS.

Além do mercado físico

“Hoje a Brix é uma plataforma de negociação para contratos de energia no ambiente físico. Mas estamos prestes a iniciar uma revolução silenciosa representada pelos contratos financeiros de energia. São os NDFs, ou non deliverable forward. Diferentemente dos contratos físicos, os NDFs não implicam a entrega da energia. Basicamente, o que permitem é a criação de travas de preços do produto, apostando na queda ou na alta. Além dos clientes tradicionais do mercado de energia, como os consumidores livres e os geradores, os contratos financeiros atraem uma série de novos participantes. É o caso de gestoras, fundos de hedge ou tesourarias de bancos, que passam a poder investir no setor.”

Novos participantes

“Esses novos participantes, num futuro próximo, tendem a representar cerca de três quartos da demanda por contratos financeiros de energia. Gestoras, por exemplo, podem criar fundos multimercados que invistam em eletricidade, captando milhões de reais com eles. É bom lembrar que a energia é a commodity que melhor reflete a realidade da economia do Brasil. Digamos que haja um déficit de chuva em determinado ano. Com isso, haveria uma elevação dos preços no mercado físico, com impacto na inflação e, por consequência, no PIB e nas taxas de juros. Diante disso, empresas do setor produtivo tomarão decisões sobre produção e investimentos. Isso significa que uma elevação ou uma queda nos preços da energia pode desencadear uma série de possibilidades de hedge ou de arbitragem com produtos financeiros. Por isso, os contratos financeiros de energia são uma ferramenta de gestão interessante.”

Riscos

“Temos autorização da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] para operar como balcão regulado para contratos de eletricidade desde fevereiro. Mas isso não basta. É preciso ter uma bolsa, autorregulação, fiscalização. Pretendemos iniciar os negócios com contratos financeiros entre outubro e novembro. Agora, estamos finalizando o processo de integração de sistemas para começar a trabalhar. A diferença entre os NDFs que vamos disponibilizar e os contratos futuros negociados na BM&FBovespa está no risco. Na Bolsa, há uma clearing que funciona como contraparte centralizada, com chamada de margem para cobertura dos negócios concentrados nela. No balcão, por outro lado, o risco é bilateral. Mas isso deve mudar em 2017. Temos um contrato com a BM&FBovespa para uma terceira fase da Brix, com a adoção do sistema de clearing com chamada de margem.”

Crise elétrica

“Ao longo dos últimos cinco anos, o setor elétrico ficou muito exposto às intempéries regulatórias. O lançamento de contratos financeiros de energia só voltou a ser possível depois que tudo isso passou. O primeiro deles no País foi registrado em dezembro. Em certa medida, a crise elétrica ajudou o mercado a entender o segmento. O setor financeiro está começando a conhecer melhor esse tipo de produto.”

Mercado potencial

“Uma consequência imediata da chegada dos contratos financeiros é o aumento da negociação de energia. Em mercados desenvolvidos, como o americano, calcula-se um multiplicador em torno de oito vezes. Significa que se o mercado livre de energia física hoje é da ordem de 15 gigawatts médios, o mercado financeiro de energia poderia girar o equivalente a 120 gigawatts médios. Ele é muito mais líquido, com uma formação de preços bem mais transparente. Além disso, permite destravar tanto instrumentos de hedge quanto ativos para investimento e fontes de financiamento, conforme a liquidez evoluir. Um exemplo são contratos com swap para dólar, que podemos desenvolver. Se uma geradora tem a possibilidade de vender parte da sua produção em dólar, usando esses contratos, ela pode tanto buscar fontes de financiamento externo, que costumam ser muito mais baratas, quanto atrair investidores estrangeiros.”

Gás natural

“Com a possibilidade de o mercado de energia se tornar 100% livre até 2023 [conforme previsão do Projeto de Lei do Senado 232, apresentado pelo senador Cássio Cunha Lima em junho], o mercado potencial de 120 gigawatts médios vai para 400 ou 450 gigawatts médios. Por isso a BM&FBovespa voltou os olhos para o setor. O que prevemos é que a Brix se tornará a plataforma da Bolsa para comercialização de contratos de energia. E já devemos começar a caminhar com a elaboração de um arcabouço regulatório que permita a criação também de um mercado de gás natural, o que ajudaria a destravar esse segmento.”

Ex-sócio

“Eike Batista era sócio da Brix, mas saiu em 2012. Pode soar estranho, mas o ‘x’ de Brix remete a ‘exchange’, ou bolsa. Eike hoje não tem nenhuma participação no negócio. Os sócios da empresa são Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente da CVM, com 6,5% do capital, além de Josué Gomes da Silva [Coteminas], Marcelo Parodi [Compass Energia] e Intercontinental Exchange (ICE), cada um com um terço da fatia restante. Embora não tenha nenhum representante no dia a dia da Brix, a ICE é uma parceira fundamental do ponto de vista tecnológico.”


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