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Como os mercados podem contribuir com a luta contra o racismo
Diretora do Baobá, fundo de fomento à equidade racial, explica importância da mobilização de empresas e investidores
racismo, Como os mercados podem contribuir com a luta contra o racismo, Capital Aberto

Selma Moreira | Imagem: Divulgação

Os Estados Unidos enfrentam há 11 dias uma disseminação histórica de protestos contra o racismo, um caldeirão de insatisfação popular que não era visto no país desde as lutas pelos direitos civis nos anos 1960  

A partir de 25 de maio, data dbrutal assassinato de George Floyd na cidade de Mineapolis — em ação policial filmada que logo viralizou nas redes sociais —, milhares de pessoas saem diariamente às ruas de muitas dezenas de cidades americanas para exigir o fim da violência estatal contra a população negra. 

E tudo em meio à pandemia de covid-19. Floyd, por sinal, foi um dos milhões de cidadãos americanos afetados pela paralisação da economia decorrente da doença.  

Inicialmente localizado na cidade mais populosa do estado de Minnesota, o movimento rapidamente atingiu grandes proporções e atravessou limites, divisas e fronteiras. Houve grandes protestos de rua em Londres e em Paris e outras ações menores ao redor do mundo.   

Mesmo sem um comando central, os manifestantes exigem de maneira unificada uma mudança dstatus quo no que se refere ao tratamento desigual destinado à população negra.  

Num mundo bastante sensibilizado pelos efeitos nefastos da pandemia, o recado parece ter alcançado Wall Street. Não por acaso, nos últimos dias houve uma profusão de declarações de CEOs e investidores relevantes contra o racismo, como Tim Cook (Apple) e Mark Zuckerberg (Facebook).  

“O que acontece hoje nos Estados Unidos é um sinal de que não é possível fazer negócios como antes, com o mundo inteiro olhando para essa temática e clamando por mais justiça racial”, afirma Selma Moreira, diretora-executiva do fundo filantrópico Baobá.  

Na avaliação dela, o racismo é pauta antiga nos mercados financeiros e de capitais, embora a visibilidade da causa hoje seja inédita. O Baobá foi fundado em 2011 e, passados quase dez anos, ainda é o único fundo filantrópico dedicado exclusivamente à defesa da equidade racial no Brasil  

Por meio de editais e apoios direcionais, o Baobá investe em organizações e lideranças negras, comprometidas com o enfrentamento ao racismo e com a promoção da equidade e da justiça social.  

Nesta conversa com a CAPITAL ABERTOa executiva fala sobre os caminhos que os líderes empresariais e decisores no Brasil podem seguir para se engajar na luta antirracista impulsionada pelo caso de George Floyd.  

Primeiro passo contra o racismo

Para começar, as empresas precisam trabalhar em processos de formação para negros e adotar ações inclusivas dentro do próprio negócio. Já os investidores devem apostar em empresas que assumam essa postura. Esse é o primeiro passo para a criação de um círculo virtuoso contra o racismo no mundo corporativo.  

Incentivos à diversidade racial 

O mercado precisa adotar um papel de incentivador. No início deste ano, por exemplo, o banco americano Goldman Sachs anunciou que só vai estruturar aberturas de capital de companhias com ao menos uma mulher no conselho de administração. Esse é um exemplo de condicionante que poderia funcionar também para estimular a diversidade racial. Já existem iniciativas importantes na questão de gênero, mas ainda não há nada voltado para a equidade de raças  

Faltam negros no topo 

Já está claro que uma equipe mais diversa gera resultados melhores, mas não basta contratar pessoas negras. É necessário investir em capacitação para que elas cheguem ao alto escalão. Atualmente, os negros estão em menos de 5% dos cargos executivos e dos conselhos de administração das empresas brasileiras, enquanto pretos e pardos representam 54% da população total do País. Por isso o processo de desenvolvimento é fundamental. Para chegar até uma vaga de conselho, um profissional negro precisa ter tido a capacitação necessária e a oportunidade para assumir papéis de liderança, em gerências e diretorias, por exemplo.  

Empreendedorismo negro 

É importante também apoiar iniciativas de empreendedores negros, via investimento social ou filantropia. Isso porque uma das maiores dificuldades desse grupo é justamente ter acesso a crédito. Recebo relatos de empreendedores que têm o acesso a capital dificultado simplesmente por causa da cor de sua pele. Sem opções, muitos acabam optando pelo crédito para pessoa física para desenvolver o negócio, o que encarece muito o processo.   

Iniciativas 

Existem iniciativas interessantes de fomento, como o Coletivo ÉdiTodosEle é focado em empreendedorismo negro e reúne diversas organizações que trabalham para alcançar a inclusão, como AfroBusiness, Agência Solano Trindade, Pretahub, FA.VELA, Instituto Afrolatinas e Vale do Dendê.   

Contratação de fornecedores 

Outra opção para as empresas contribuírem com esse processo está na contratação de fornecedores negros, na inclusão da população negra na cadeia de suplementos. É importante que empresas e investidores mantenham sempre no radar a criação de oportunidades para pessoas negras dentro de cada cadeia do negócio.  

Consequências 

Se os mercados continuarem a fazer negócios sem incluir pessoas negras, alimentarão um sistema perverso que aumenta a desigualdade e cria bolsões de miséria. Isso ficou muito claro com a pandemia, já que a covid-19 se mostra mais letal entre pretos e pardos.  

Oportunidade e dívida 

Estamos vivendo um momento terrível de crise humanitária, mas, ao mesmo tempo, essa ebulição contra o racismo pode ser uma janela única em nossa geração para repensarmos o sistema como um todo. Não é possível esperar que questões da complexidade do racismo sejam resolvidas naturalmente; se isso fosse possível já teria ocorrido. O Brasil tem uma dívida com os negros — e desde a escravidão ela não foi paga. 


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