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Gestora de Pierre Schurmann quer investir em mil startups
Fundador da Bossa Nova planeja atingir a meta até 2020 — hoje, a empresa de venture capital tem 180 negócios em carteira
Gestora de Pierre Schurmann quer investir em mil startups

Foto: Régis Filho

Assim como Chega de Saudade, de João Gilberto, a Bossa Nova de Pierre Schurmann e João Kepler não foi um sucesso logo de cara. Afinal, em 2011 parecia mesmo pouco promissora a ideia de se criar uma empresa de venture capital voltada ao investimento em negócios incipientes de tecnologia — a expressão “startup” mal era corrente naquela época. Acontece que Schurmann desde sempre viveu fora da caixa. Integrante da célebre família de navegadores, aos 15 anos ele saiu do Brasil com os pais e os irmãos para singrar os sete mares e outros mais. Assim, mesmo diante dos avisos de que poderia estar entrando num barco furado ao investir em empresas nascentes, não titubeou: abriu a Bossa Nova. A gestora, em parceria com Kepler, exibe hoje uma carteira com pelo menos uma centena de startups, avaliada em 6,8 bilhões de reais.

Schurmann passou quatro anos a bordo do veleiro Guapo. De volta a uma terra firme, em 1988 começou a cursar administração nos Estados Unidos, onde fez carreira na corretora Smith Barney. Retornou ao Brasil em 1994 para cuidar do financiamento e da produção executiva da expedição da Família Schurmann que replicou a viagem ao redor da Terra feita no século 16 pelo navegador português Fernão de Magalhães. Dois anos depois começou a carreira de empreendedor. Criou e vendeu três empresas: a Zeek! (depois adquirida pela Starmedia), a Ideia.com e a Conectis Experience. Foi também fundador e executivo-chefe do Experience Club, a maior plataforma de relacionamento corporativo do País, até que resolveu voltar a participar do mercado de tecnologia, internet e startups fundando a Bossa Nova Investimentos, em janeiro de 2011.

“O objetivo era muito mais ter uma holding pessoal de investimentos do que chegar ao formato que a Bossa Nova tem hoje: uma empresa de micro venture capital”, revela Schurmann. O portfólio da Bossa Nova conta com cerca de 180 startups, entre brasileiras e estrangeiras, muito mais que a meta original de 15 a 20 empresas iniciantes. Só no primeiro ano da operação foram 11 os investimentos. Como é comum entre os investidores-anjo, Schurmann manteve a carteira, limitando-se a acompanhar sua evolução. Em 2015, com a entrada de Kepler, um conhecido investidor no meio dos anjos, um segundo ciclo de crescimento da Bossa Nova se iniciou.

As coordenadas

A empresa passou a se guiar pela bússola do modelo da californiana SV Angel. Fundada em 2009, a gestora tem em seu portfólio 30 unicórnios (apelido dado às startups que alcançam valor de mercado de pelo menos 1 bilhão de dólares) e acumula pelo menos 300 saídas bem-sucedidas, num universo de 900 empresas — entre elas nomes que falam por si só como Airbnb, Pinterest e Snapchat. Com pouco capital — os investimentos da SV Angel variam entre 25 mil e 100 mil dólares — a gestora fez mais do que seus pares dedicados a grandes volumes, destaca Schurmann. “A Sequoia Capital [famosa gestora de venture capital dedicada a startups das áreas de energia, finanças, saúde e internet] faz aportes muito maiores, mas tem menos unicórnios e saídas bem-sucedidas que a SV Angel”, destaca o gestor.

Um exemplo a seguir não faltava, portanto. Mas abaixo do Equador, em 2015, a questão que desafiava Schurmann e Kepler era como criar um negócio escalável, com portfólio grande, num ambiente cheio de dificuldades regulatórias, jurídicas e de acompanhamento dos negócios — aquele quadro brasileiro mais que conhecido, responsável pela taxa de mortalidade de empresas nos primeiros dois anos entre 40% e 50%, pelas contas do Sebrae. Cientes do tamanho da tormenta, os sócios desenharam um projeto piloto e começaram a investir o próprio capital em startups. As coordenadas? Uma tese muito clara, que assegurasse o retorno do capital investido. “Decidimos concentrar os investimentos da Bossa Nova em negócios B2B [empresa a empresa] que já estivessem faturando, enraizados em segmentos específicos, e que mostrassem já ter alguma tração”, sublinha Schurmann.

Acertando a velocidade

Inspirados em experiências nacionais e internacionais, Schurmann e Kepler adotaram como processo de acompanhamento da evolução das startups um círculo de relacionamento. A “Rede Bossa Nova de Benefícios”, integrada pelos próprios fundadores das empresas, hoje em torno de 450, promove eventos presenciais mensais e bate-papos virtuais. Os encontros permitem aos fundadores debater problemas e às startups em estágios mais avançados ensinar o caminho das pedras para as iniciantes.

“Passamos o segundo semestre de 2016 aprimorando processos, acertando a velocidade e ajustando o negócio para que pudéssemos criar o portfólio que temos hoje, e escalar”, assinala Schurmann. A “corda” que ajudou a Bossa Nova a subir de patamar foi jogada pelo Banco BMG, que tem uma área dedicada à inovação tecnológica, a BMG UpTech, e aportou 100 milhões de reais no negócio. Além do capital, o banco da família Pentagna Guimarães oferece à operação de Schurmann e Kepler suporte jurídico, administrativo e financeiro. O back office libera os dois sócios para se dedicaram à tarefa — fundamental no venture capital — de farejar startups nascendo. As indicações vêm de outras empresas de venture capital, investidores-anjo e mesmo de fundadores de startups que compõem a Rede Bossa Nova. “Esse apoio do BMG é essencial para podermos dar escala ao negócio”, diz Schurmann.

Momento de acelerar

Com a estrutura que montaram nos últimos anos, Schurmann e Kepler confiam que vão conseguir cumprir a meta de chegar a mil startups em 2020. Esse não é um número mágico, ressalta Schurmann: está amparado num estudo da Kauffman Foundation (uma das maiores fundações privadas dos EUA com dedicação ao empreendedorismo) segundo o qual uma carteira com mais de 600 startups apresenta uma taxa média de retorno superior a 300%. “O trabalho analisou uma amostra de 10 mil startups nos Estados Unidos e chegou a essa modelagem”, explica Schurmann.

A Bossa Nova analisa cerca de 50 projetos de empresas por mês. Elas passam por uma peneira de procedimentos internos até sobrarem entre 15 e 20. Schurmann afirma que essa rota permite à Bossa Nova chegar a empresas de 20 estados do Brasil e também a negócios nos Estados Unidos, de onde vieram aproximadamente 150 das startups do portfólio. Os sócios apostam ainda em empresas de países como Colômbia, Argentina, Chile e Peru. E estão entrando também no México, onde já têm parceria com um grupo local.

O sucesso no venture capital, entretanto, vai além da descoberta das melhores oportunidades. É preciso fazê-las progredir substancialmente e, ao final da expedição, vendê-las a valores excelentes. O melhor desinvestimento feito pela gestora, referente a uma startup que ficou apenas um ano na carteira, gerou retorno de 700% sobre o capital investido. Se o mar continuar para peixe, o veleiro da Bossa Nova só tende a acelerar.


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