O livro narra a expansão do American International Group desde a consolidação de várias seguradoras americanas de atuação regional até a forte presença global, num momento em que poucas empresas tinham essa ambição. A AIG foi a primeira seguradora estrangeira em vários países da Ásia e do Leste Europeu. Greenberg assumia um papel de “embaixador” de negócios dos Estados Unidos, muitas vezes participando da própria política externa americana.
O final da obra reconta os fatos que sucederam a substituição de Greenberg como CEO, um trimestre antes de sua aposentadoria compulsória, no início de 2005. Três eventos associados conspiraram para a derrocada da empresa: o novo padrão de governança pós-Sarbanes-Oxley; a perseguição de Greenberg pelo procurador de Nova York Elliot Spitzer; e a crise global, que pegou a companhia com a guarda baixa em termos de gestão de risco.
A concentração de poder por tanto tempo expôs a liderança autocrática de Greenberg. Conselheiros independentes separaram os papéis de CEO e presidente do conselho e, em seguida, substituíram Greenberg, tentando blindar a companhia do assédio de Spitzer. Mas a falta de conhecimento dos conselheiros sobre seguros, o relaxamento na disciplina e na gestão de risco e a migração dos incentivos de longo prazo para os de curto prazo criaram um ambiente tóxico. A área de produtos financeiros simbolizava a cultura emergente, de abraçar riscos enormes em troca de polpudos bônus anuais. A exposição a derivativos de crédito lastreados em hipotecas (credit default swaps) drenou a liquidez da AIG até deixá-la de joelhos.
Foi quando o governo americano nacionalizou a companhia, com uma injeção de recursos que diluiu fortemente todos os acionistas. O Tesouro americano (leia-se Hank Paulson e Tim Geithner) utilizou a AIG como um conduíte para canalizar US$ 65 bilhões a vários bancos de investimento americanos e estrangeiros, pagando o valor de face em contratos que claramente poderiam ser renegociados.
Uma questão que pode passar despercebida é o arranjo de governança da AIG, que impactava os incentivos e a gestão da empresa. Onde a comunidade de negócios enxergava um CEO e chairman imperialista, era possível ver o “olho do dono”. Greenberg era o maior acionista individual da AIG, por meio da holding em que tudo começou. Nos tempos de Greenberg, o sistema de incentivos da empresa consistia em ações da holding que poderiam ser vendidas apenas em caso de aposentadoria. Isso assegurava meritocracia e horizonte de longo prazo, fundamentais num negócio como o de seguros.
Alguns fatos são marcantes. O comportamento de Spitzer, motivado por ambições políticas (ele viria a ser o governador de Nova York), descreve um capítulo sombrio da história americana: como um homem público usou seu cargo em proveito próprio. E, embora para Paulson e Geithner a AIG tenha sido o “cordeiro sacrificado” para salvar o sistema financeiro, a expressão “bode expiatório” parece mais adequada. Cabe ao leitor eleger a sua versão da verdade.
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