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O otimismo de André Rosenblit com 2020
Head de equities do Santander Brasil explica por que os presságios de uma nova recessão para o próximo ano não o assustam
Head de equities do banco Santander Brasil acredita que a bolsa ainda deve subir muito mais em 2020

*André Rosenblit | Ilustração: Julia Padula

As cassandras que auguram uma nova recessão, uma nova crise global, não assustam o head de equities do banco Santander Brasil, André Rosenblit. Aos maus presságios ele antepõe uma muralha de 135 trilhões de dólares, que afirma estarem disponíveis para investimentos ao redor do mundo.

“Esse dinheiro, de fundos de investimento, fundos de pensão, bancos de investimentos, seguradoras, bancos centrais, endowments de universidades, caixas de empresas, fundos de hedge, private banks, pode comprar todas as empresas dos Estados Unidos [valor estimado em 25 trilhões de dólares], todas as bolsas [60 trilhões de dólares] ou toda a renda fixa [100 trilhões de dólares] do mundo”, compara o gestor. “Sempre há e sempre haverá pessoas que ficam prevendo catástrofes, algumas por puro sensacionalismo, outras porque acreditam firmemente nos prognósticos sombrios. Mas eu sempre prefiro ler, me informar e filtrar as informações, e o que a realidade mostra é que, num mundo de juros baixos, inflação baixa e uma liquidez enorme, sempre existirá quem queira assumir um pouco mais de riscos.”

Ele tampouco se assusta com a saída de investidores estrangeiros da bolsa brasileira, uma sangria de 38,12 bilhões de reais no acumulado dos 11 primeiros meses de 2019 — evasão que supera os 24 bilhões de reais do recorde de 2008, ano da eclosão da crise financeira global, no mesmo intervalo janeiro a novembro. “Sim, é verdade que a venda de ações negociadas em bolsa tem sido grande, mas o investidor estrangeiro está saindo de Petrobras e Vale para investir em ofertas iniciais e em follow-ons. Cerca de 35 bilhões de reais entraram aqui por essa via. Então, o saldo líquido, embora negativo em cerca de 3 bilhões de reais, não é tão assustador assim”, ressalta o responsável pelo livro de reservas dos investidores estrangeiros da instituição global. “Os estrangeiros ficaram com cerca de 40% desses negócios em 2019”, resume Rosenblit.


Entretanto, o head de equities do Santander adverte que 2020 vai ser um ano de turbulência, de muita volatilidade nos diversos mercados financeiros e de capitais — bolsas, juros, moedas. Em primeiro lugar, por causa da eleição para a presidência dos EUA, em novembro. Donald Trump, o presidente candidato à reeleição pelo Partido Republicano, enfrenta uma oposição ainda sem um nome, mas que já conta com um apelo forte entre o eleitorado jovem americano, que está voltado para a questão das desigualdades financeiras e sociais. E o Partido Democrata está afinado com essa pauta, propondo aumento da tributação sobre os mais ricos, sugerindo uma nova regulamentação para as grandes empresas de tecnologia (Google, Amazon, Facebook, Microsoft e afins) e a criação de planos de saúde mais acessíveis e de caráter mais social. Logo, o grau da volatilidade dependerá de quem vier a ser o candidato democrata e de seu discurso. Bolsa e câmbio tenderão a oscilar fortemente por ocasião das prévias dos partidos e das pesquisas de opinião pública durante a corrida presidencial.

O segundo fator de volatilidade envolve a guerra comercial e também a disputa tecnológica entre Estados Unidos e China. Algumas questões podem ter arrefecido, mas estão longe de uma solução; vislumbra-se, assim, um segundo e até um terceiro tempo da contenda. Da mesma forma, o espectro do Brexit, dependendo da forma como será conduzido, continuará a assombrar a Europa, enquanto a agitação política e social de Hong Kong e da América Latina promete prosseguir em 2020 — sem falar na sempre presente tensão na península coreana. Tudo isso junto e misturado bota fervura nas bolsas e nas moedas. Um outro fator de risco é a quantidade de recursos alocados em ativos com remuneração real negativa. São 12 trilhões de dólares que, a qualquer solavanco, podem aumentar a volatilidade. “O VIX, o índice de volatilidade da bolsa americana que alguns chamam de ‘índice do medo’, passou 2019 em torno de 12 e tende a ir a 18 em 2020”, prevê Rosenblit.

A volatilidade e a incerteza que marcaram 2019 ficaram evidentes com a dissipação do sentimento quase unânime de otimismo com relação às bolsas prevalente no início do ano. Em relação a 2020, há uma grande divergência entre investidores, tanto estrangeiros quanto brasileiros, sobre o que esperar. Rosenblit se apega aos fundamentos para vislumbrar os rumos do mercado num prazo mais longo. E por fundamentos ele toma as perspectivas de lucratividade das empresas lá fora. Para o gestor, essa base está bastante positiva, apesar de os preços estarem relativamente elevados, por conta do fato de a taxa de juros estar baixa. De qualquer forma, ele vê fundamentos para ancorar expectativas em uma alta de 4% a 8% do Índice Standard&Poor’s em 2020.

Já quanto à taxa básica de juros comandada pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, Rosenblit entende que se manterá, podendo até sofrer um corte, dependendo do comportamento do mercado de trabalho. Aliás, Rosenblit observa que as cassandras da recessão ali na esquina não levam em consideração uma mudança estrutural na relação entre o emprego e a inflação, estabelecida nos manuais de Economia como taxa natural de emprego não aceleradora de inflação (em inglês, non accelerating inflation rate of unemployment, ou Nairu). Resumidamente, a tese defende que quanto mais elevado o nível de emprego, maior o consumo e os preços se aceleram. Inversamente, sendo maior o desemprego, o consumo cai e os preços se desaceleram. “Além de a massa salarial ter se mantido a despeito do desemprego baixíssimo, a inovação tecnológica produziu um barateamento incrível dos processos. A Amazon, por exemplo, quase não tem custos com estocagem. A logística foi toda terceirizada. O resultado é um processo deflacionário tão grande que o Fed não precisa subir os juros por um período mais longo”, assegura Rosenblit.

Por outro lado, fatores importantes que influíram nos comportamentos dos mercados e nos preços dos ativos em 2019 tendem a não se repetir em 2020. É o caso do diferencial entre as taxas de juros americanas e as do resto do mundo, circunstância que ajudou muito o dólar se valorizar, com a maciça repatriação de recursos de empresas para os EUA, motivada também pelas medidas tributárias de Trump — o que não vai acontecer de novo em 2020. Assim, o dólar deve ficar um pouco mais fraco ante as demais divisas.

No cenário conturbado esperado para o mercado de moedas em 2020, o iene japonês se sobressai como um “porto seguro”, na visão do gestor do Santander. Ele ressalta, contudo, o papel tradicional, secular, do ouro como um ativo cujos preços sobem em todos os momentos de alta volatilidade. Para quem gosta de mais adrenalina no sempre arriscado mercado de moedas, Rosenblit destaca a rupia indiana.


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Contra esse pano de fundo nada alvissareiro, mas nem por isso catastrófico, as perspectivas para o Brasil são bem mais amenas — e até promissoras, quem diria. O Santander projeta um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 2% em 2020, uma leve melhora para 2,2% em 2021 e, talvez, algo próximo de 3% em 2022. Esse crescimento nos próximos anos seria fruto de investimentos do setor privado, de um mercado de consumo mais robusto e da construção civil subindo de patamar — tudo em razão de juros estruturalmente mais baixos, cenário que significa mais crédito para famílias e empresas e a chance de uma nova onda de geração de empregos.

Além disso, o Brasil começa a colher frutos de medidas e reformas mais amigáveis para os negócios empreendidas pelo ex-presidente Michel Temer, como o teto de gastos, a eliminação das restrições à entrada de companhias aéreas no mercado brasileiro, a alteração na regulamentação do setor de telecomunicações, a reforma trabalhista e o novo marco regulatório do segmento petrolífero. Logo mais à frente, Rosenblit destaca, virão novas regras para o setor de saneamento e a independência do Banco Central. No pacote também entra a recém-aprovada reforma da previdência.

O gestor igualmente vê avanços promissores no âmbito da infraestrutura, com a construção de portos, ferrovias, rodovias e aeroportos, já em curso ou em vias de saírem das pranchetas no decorrer dos próximos dois ou três anos, conjugados à expansão da produção de petróleo.

Tais aceleradores da atividade deverão possibilitar um crescimento do lucro das empresas listadas em bolsa da ordem de 16%, na média, ao longo de 2020. De modo que, se tudo mais permanecer constante, o mercado subirá esses mesmos 16%, o que pode levar o Ibovespa para a casa dos 130 mil pontos. A bloquear essa perspectiva promissora, a estreiteza do universo de aplicadores em renda variável no Brasil. Rosenblit nota que, de 2002 a 2014, a indústria nacional de fundos de investimento alocava 10% do patrimônio sob gestão em ações, comparados a 90% em renda fixa. De 2014 para cá, essa fatia, já magra, afinou para 7,5%.

Porém, já chegou a ser quase o dobro disso — 14,7% no ano de 2007, quando começou a crise das hipotecas podres dos EUA que levaram à grande recessão de 2008. Esse patamar em torno de 15% dos 5 trilhões de reais dos ativos sob gestão dos fundos pode ser retomado agora que os juros estão num nível civilizado e sem perspectivas de voltar a subir no médio prazo. Também concorrem para esse cenário positivo um dólar com tendência a permanecer em torno de 4 reais (depois do susto derivado do desapontamento com o superleilão da cessão onerosa do pré-sal) uma crescente lucratividade das empresas e uma peculiaridade do milênio que se soma a esses tradicionais fatores indutores de alta das ações: a proliferação de plataformas de investimento inovadoras, amigáveis e pedagógicas, que facilitam as aplicações e atraem novos investidores para o universo das ações. No Brasil, apenas 1,5 milhão de pessoas físicas investem na bolsa de valores, ou menos de 1% da sua população, ao passo que em vários países emergentes esse percentual chega a 5%. O ponto, entende Rosenblit, é que há um potencial significativo de recursos e de investidores a ser explorado nesse nicho.

Não satisfeito, ele puxa uma carta da manga da História para sustentar a aposta na alta da renda variável. “Olhando os últimos 60 anos, é possível notar que houve quatro períodos de altas fortíssimas da bolsa, todos motivados por guinadas políticas. A última delas foi desencadeada pela ‘Carta ao Povo Brasileiro’, do então candidato Lula, que fez as ações valorizarem de 1.500% até 2.000% a partir do segundo semestre de 2002”, aponta Rosenblit. Plano Collor e Plano Real foram outros “gatilhos” para altas mais gigantescas. “Desde o impeachment da presidente Dilma, a bolsa dobrou de preço, mas tem muito mais para subir. As ‘altas políticas’ do passado não foram de 100%, 120%, foram de 1.500%, 2.000%. A bolsa é o melhor ativo financeiro para se investir em 2020”, vaticina Rosenblit.


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2020, O otimismo de André Rosenblit com 2020, Capital Aberto


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