A empresa ética
Qualidades para o sucesso no mundo pós-covid-19
Escuta atenta e saúde psíquica devem ser foco dos líderes empresariais

Imagem: macrovector | Freepik

No último texto, descrevi as características da empresa que aprende. A meu ver, trata-se de uma das três qualidades das organizações que conseguem prosperar em um mundo de incertezas. Nesta coluna, escreverei sobre a ética, o segundo atributo.

Ética refere-se a relacionamentos. Quais são os princípios, valores e normas de conduta que pautam nossa relação com as pessoas e o planeta? Vale tudo? Até onde vamos e não vamos? Nos delimitamos apenas pela lei?

Um comportamento ético é resultado de nossa capacidade de refletir sobre as consequências de nossos atos ou omissões e de controlar nosso impulso egocêntrico em prol do interesse coletivo. O mesmo raciocínio vale para as empresas.

Uma empresa ética considera continuamente os impactos de suas ações sobre os stakeholders. Ela avalia o mérito de suas decisões não apenas sob as perspectivas comercial, jurídica e técnica, mas — principalmente — sob a perspectiva da ética.

A ética não se limita à reflexão. Ela é sobretudo ação. Como já dizia Aristóteles, o objetivo da ética é a prática da virtude, não apenas saber o que é o certo a fazer. Por isso, a ética empresarial refere-se a comportamentos em vez de documentos.

Uma empresa ética está disposta a sacrificar ganhos de curto prazo para que seus stakeholders possam coexistir melhor ao longo do tempo. Ela compreende que a lei é o piso, não o teto, de suas ações.

A principal marca de uma empresa ética é a capacidade de criar relacionamentos saudáveis do tipo ganha-ganha com todos os seus stakeholders. Seus líderes a veem como um sistema interdependente cuja força deriva da qualidade dos vínculos entre seus elementos.

Uma empresa ética se preocupa genuinamente com o bem-estar de seus empregados, clientes, fornecedores e outros públicos. Ela os vê como um fim em si mesmo, não como meio para se fazer mais dinheiro.

Uma empresa ética possui três atributos principais: valores sólidos vivenciados diariamente, cultura ética e um estilo de liderança virtuoso em todos os escalões.

Praticamente todas as empresas têm um conjunto de valores nobres com referências a temas como integridade, honestidade, respeito a clientes e funcionários. Na maioria, contudo, há um oceano de distância entre os valores declarados e suas decisões diárias. Quando o valor supremo, na prática, é apenas quanto dinheiro se faz, cedo ou tarde ocorrerão graves problemas éticos.

O segundo atributo é a instauração de uma cultura ética. Isso exige alinhar o que está escrito nos documentos corporativos às normas sociais e às regras não escritas para sobreviver e prosperar na organização. Quando existe esse alinhamento, decisões e comportamentos éticos se tornam algo natural, automático e habitual na empresa.

Para se criar uma cultura ética é necessário haver liderança. Em particular, líderes virtuosos que se vejam como curadores de suas organizações e procurem entregá-las melhor do que as receberam. Esse é o terceiro atributo.

Em todos os escalões é preciso desenvolver líderes que procurem servir em vez de serem servidos, desenvolver pessoas e criar um ambiente inspirador, justo, inclusivo, seguro e emocionalmente positivo.

Esses líderes devem ser capazes de proporcionar aos membros de suas equipes duas categorias de experiências: uma de universalidade e outra de singularidade.

A experiência da universalidade leva as pessoas a sentirem estar unidas na busca por algo maior do que elas mesmas, a perceberem que conjuntamente poderão chegar a realizações que nunca conseguiriam individualmente e a compreenderem diariamente a importância de seu trabalho.

A experiência da singularidade faz com que cada indivíduo perceba ser tratado como um ser humano único, com suas peculiaridades. Isso significa ser ouvido, reconhecido, alocado em tarefas alinhadas ao que faz melhor e sentir que do outro lado há uma liderança que se preocupa com o ser humano, para além das questões profissionais.

Para se exibir um estilo de liderança virtuoso, é preciso muito mais do que inteligência analítica. É necessária maturidade como ser humano, inteligência emocional, sólida bússola moral e visão sistêmica.


*Prof. Dr. Alexandre Di Miceli da Silveira é fundador da Virtuous Company Consultoria e autor de Ética Empresarial na Prática: Soluções para a Gestão e Governança no Século XXI. O articulista agradece a Angela Donaggio pelos comentários e sugestões.


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