Sonhos possíveis

O tempo é de seca para o mercado de capitais — seja no campo das captações com ofertas de títulos, seja na bolsa de valores. A crise econômica e política desidrata os negócios e o impulso dos empresários para investir. Do lado dos investidores, os títulos públicos sustentam-se como a melhor promessa, a despeito de a inflação, na prática, já suplantar seu magnífico retorno. Ainda assim, agentes do mercado parecem não se omitir diante do caos. O sonho de vê-lo como um freio à instrumentalização política das empresas estatais aparece em duas ocasiões nesta edição de SELETAS.

Em uma delas, o colunista Geraldo Soares observa a vocação das crises para ensejar revoluções. Ele sugere a privatização das estatais, com a distribuição de ações em bolsa de valores, como um caminho para tapar o rombo dos cofres governamentais e, ao mesmo tempo, exterminar os interesses políticos que se enraizaram nessas organizações. Na outra, o novo ofício circular da Comissão de Valores Mobiliários dirigido às companhias abertas assinala a importância de as estatais prestarem contas a investidores sobre os desígnios do setor público aos quais estão submetidas. As formas como essas determinações são atendidas e seus impactos sobre os resultados financeiros são algumas das informações que o regulador orienta os dirigentes dessas empresas a divulgar.

Remédio para a crise na visão de alguns, o mercado de capitais é conscientemente descartado por outros. Em Grupo de Discussão promovido pela capital aberto, três fundadores de empresas familiares de capital fechado debateram os desafios de sucessão de seus postos e compartilharam soluções para facilitar esse caminho, como mostra o texto de Cláudia Bredarioli. A abertura de capital, nesses casos, não é uma alternativa. Assediados diversas vezes por bancos de investimento, eles preferem buscar a perenidade dentro de casa.


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