Os desalinhamentos de interesse perpetrados nas empresas estatais contaminam o noticiário. Mas uma boa notícia surgiu discretamente nesta semana: o Estado do Rio Grande do Sul, controlador do Banrisul, que parecia prestes a protagonizar mais um episódio de abuso de controle, acenou com a possibilidade de fazer o que é certo: abster-se em votação de assembleia do banco que vai deliberar sobre uma norma dedicada a engordar os cofres gaúchos. A medida, além de obedecer à Lei das S.As., mostra respeito aos acionistas minoritários que, diferentemente do estado, estão posicionados apenas no lado a ser desfalcado pela iniciativa. No centro do caso, a concessão dos serviços de folha de pagamento dos funcionários públicos estaduais cedida graciosamente ao Banrisul, agora fitada pelo olhar guloso do governo local — que vê na possibilidade de cobrança da concessão uma oportunidade para colocar as contas em dia.
O alvoroço do setor público para promover o ajuste fiscal é compreensível, mas é preciso cuidado com as escolhas — e as renúncias — feitas nesse processo. Em sua coluna desta edição, o gestor de recursos Alexandre Póvoa chama atenção para a Medida Provisória 694/15, relatada pelo senador Romero Jucá, que conserva a política de atribuição de incentivos fiscais a investimentos de renda fixa e alta liquidez. Especialmente em períodos de inflação elevada e opacidade do cenário econômico é que estímulos aos indivíduos dispostos a correr risco são oportunos. No texto da MP, entretanto, o afã de drenar recursos da sociedade para reduzir a vala fiscal se sobrepõe a uma visão de longo prazo, como destaca o colunista de SELETAS. Combinar o conserto das contas com medidas que façam sentido é o principal desafio.
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