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Um 2019 que mais pareceu 1968
O ano que se encerra ficará marcado por agressões ambientais, desigualdade, desemprego, endividamento e precariedade da previdência
Notas sobre um 2019 que mais pareceu 1968.

Ilustração: Rodrigo Auada

O ano terminou deixando sinais e, assim como o cinquentenário 1968 do funesto AI-5, foi rico em acontecimentos. 1968 começou em janeiro, como todos os anos, mas seria diferente. Já no dia 1º aconteceu a ofensiva do Tet na Guerra do Vietnã, que incorporou ao vocabulário político-militar a expressão Síndrome do Vietnã — um país pobre, pequeno e agrário.

No capítulo do movimento pelos direitos civis, Luther King e Bob Kennedy foram assassinados, houve a marcha de Memphis a Washington e, com tudo isso, o presidente Johnson desistiu da disputa pela reeleição.

Nos subúrbios de Paris, eclodiu o maior movimento popular na França desde 1789. Os estudantes de Nanterre, inicialmente, reivindicavam apenas o direito de compartilhar alojamentos sem separação de gêneros, mas acabaram derrubando o presidente De Gaulle, que renunciou em 1969.

Acontecia a Primavera de Praga, reprimida pelos soviéticos. No México, a rebelião contra o PRI resultou no massacre de Tlatelolco, pouco antes da Olimpíada em que os atletas negros americanos fizeram a saudação dos Panteras Negras. Pela primeira vez desde a ocupação, os estudantes japoneses protestaram contra as bases americanas no país. Na China, Mao perdia o controle sobre milhões de jovens da Guarda Vermelha.

No Brasil, tivemos novidades como a Tropicália, a peça Roda Viva, a canção Sabiá, o teatro de Zé Celso e a Teologia da Libertação.

Foi um período de chumbo e de sonhos em escala mundial. Na visão de alguns, o sonho teria acabado. Na verdade, o mundo foi transformado de forma irreversível, embora os efeitos sejam invisíveis para quem olha de ré.

Aliás, tenho lido e ouvido sobre supostas semelhanças entre 1968 e as chamadas “jornadas” de 2013 no Brasil. Deve ser brincadeira.

2019 ficará marcado pelos protestos contra as agressões ambientais, os aumentos de preços, a desigualdade, o desemprego, o endividamento da população e a precariedade da previdência. Da França, o movimento dos coletes amarelos se espalhou por outros países; o Chile tenta reformar o modelo neoliberal, com falência requerida nas ruas; no Equador, Lenín Moreno se refugiou fora da capital e, na Argentina, Macri perdeu a eleição. Em Hong Kong aconteceram protestos nunca vistos ali e, em Barcelona, os independentistas catalães levaram meio milhão de pessoas às ruas.

Donald Trump está diante de um processo de impeachment; Sebastián Piñera é acusado de crimes contra a humanidade; Benjamin Netanyahu foi indiciado por corrupção; Bashar al-Assad e Nicolás Maduro permanecem no poder; Evo Morales caiu, dizem que golpeado por uma sugestão fardada.

No Iraque e no Líbano ocorreram protestos contra as respectivas recessões econômicas; na Colômbia, as greves gerais paralisaram as reformas; os seguidores de Steve Bannon foram derrotados nas eleições da Itália, da Hungria e em Israel; os socialistas saíram vitoriosos em Portugal e, na Espanha, formaram um governo de coligação; o Uruguai desenha um quadro político de conciliação.

O neoliberalismo, acolhido pelo Estado, desequilibra as relações sociais, negando a democracia. O Brasil pode estar contratando hoje o caos de amanhã, pois, feito Pelé, a necessidade chuta rapidamente com a direita e com a esquerda.

Ao contrário do que se imagina, 2019 esteve mais para 1968 do que para 2013. Essas coisas são assim mesmo. Confundem.


*Carlos Augusto Junqueira de Siqueira é advogado


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