Tomo emprestado o título da bela canção de Paulinho da Viola, falando de um mundo apressado que se apressou ainda mais e agora parou. Pensei também em Vamos com Calma, comédia de 1956, mas o tempo está mais para o drama, embora não faltem momentos de chanchada nesses dias duros.
Vejo muitas projeções sobre a pandemia e a economia. Não se abalem. Embora não sabendo o que vem por aí, continuam praticando o esporte. Ainda que não compreenda bem os meandros da teoria econômica nem seja versado nas ciências médicas, ouso afirmar que até o Merlin seria incapaz de fazer previsões, por mais bem intencionadas que fossem.
O tempo de duração da pandemia e os efeitos sobre a economia são incógnitas. Esqueçam, portanto, os prognósticos e torçam para que a pandemia passe (como todas passaram) e a economia se recupere (como sempre aconteceu).
É de bom alvitre (perdoem) pensar nas boas coisas que o momento proporciona, como a convivência entre pais e filhos, uma oportunidade que nenhuma geração teve. Os pais trabalham fora e os filhos, nos tempos atuais, vão para a escola tão logo desmamados. Valorizem, porque isso não se repetirá tão cedo.
A natureza respira e o bom senso não recomenda a reabertura geral, mesmo porque as pessoas estão precavidas, temerosas. Como reza a sabedoria popular, afobado come cru e de que adianta, aos defuntos, o emprego que, em grande parte, eles já não tinham em vida?
Melhor aguardar cautelosamente, pensando na demanda reprimida que, mais dia, menos dia, será satisfeita, com churrascões regados a cerveja. Tudo no devido tempo.
Tenho visto também comparações entre a Grande Depressão e os dias atuais. São cenários diferentes e, naqueles tempos, as viagens intercontinentais requeriam meses singrando os mares. Não existia internet, penicilina nem TV. Sendo uma época lenta (e, nesse particular, saudosa), qualquer recuperação, da saúde ou da economia, forçosamente seria vagarosa.
Mas a Grande Depressão deixou lições. Juntamente com as pesadas sanções econômicas impostas à Alemanha no pós-guerra de 1914-18 (Keynes, que participava da Conferência de Paris, retirou-se em protesto), ela deu causa à miséria alemã e, por consequência, à crença num certo Adolf.
Em 1929, o presidente americano era Hoover, cavalheiresco, mas apático. Roosevelt assumiu em 1932 — pegando a depressão no auge — e, com sua mente poderosa, complexa e estratégica, propôs o New Deal. Não entregou a execução do plano a um economista, mas a Harry Hopkins, assistente social, de saúde precária, que gastou a rodo e devolveu ao povo a esperança e a fé no sistema democrático. Logo depois, aqueles necessitados (como os severinos de João Cabral), socorridos pelo Estado, defenderiam a democracia na Segunda Guerra.
Como era de se esperar, Hopkins foi massacrado pela imprensa e pelos políticos, mas FDR o manteve e, durante a guerra, ele seria o homem de confiança do presidente. O país saiu do conflito como maior potência mundial.
Aproveitem para refletir sobre modelos econômicos que, há anos, pouco têm servido à sociedade em seu todo. Milton Friedman, por exemplo, foi um eterno crítico do New Deal.
Finalmente, recomendo a leitura de A Peste (Camus), As Vinhas da Ira (Steinbeck), Roosevelt e Hopkins (Sherwood) e O Alienista (Machado). Distraiam-se, precatem-se e mantenham fechadas as portas de casa.
*Carlos Augusto Junqueira de Siqueira é advogado
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