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Reconstruções
O tal do novo normal, no Brasil, provavelmente não comportará utopia
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Imagem: Freepik

Não sei o que esperar desse novo normal anunciado na aldeia (que já não parece tão global quanto McLuhan previu), mas, certamente, não devemos pensar em utopias num país dividido, cronicamente desigual, que já foi chamado de Belíndia.

Teremos de fazer escolhas individuais e coletivas, sem mais uma “nova ordem” (não tem bom currículo) linear, medíocre e intolerante, como costumam ser. Também não gostaria das velhas desordens em que, faz tempo, nos metemos. Como acontece na divisão dos poderes, a política, a economia e o social têm vasos comunicantes, mas territórios próprios.

O modelo adotado na sociedade fortemente estratificada pode ser substituído pelo tratamento do déficit social (educação, moradia, saneamento e saúde), exposto intensivamente pela pandemia. Gera empregos, impostos, acelera a recuperação e fermenta o bolo que não cresce há tempos.

Já o superávit de métricas, estatísticas, análises e relatórios sufoca a compreensão. Numa palavra: mais gente, menos números. Por exemplo, nas barcas, ônibus e trens suburbanos, pode-se medir agrupamentos humanos. O Maracanã recebe multidões, mas a maior parte fica distante, sem rosto.

A ponte Rio-Niterói mede o nível da atividade econômica. Para saber do comércio marítimo, a opção é ficar, à noite, num quiosque qualquer da orla, bebericando e conversando, com os olhos nos cargueiros entrando ou saindo da baía.

Como no papel cabe tudo, penso que, depois da pandemia, as eminências republicanas deveriam viajar periodicamente nas barcas, passar pela ponte e devorar um sanduba de quiosque à beira-mar, na madrugada.

No varejo há muito mais a ser pensado, e até adianto umas poucas indagações: obras rodoviárias notáveis (como a ponte) servem à eficiência logística ou à indústria das multas? O país deve ser uma caixa-forte ou uma casa? A biodiversidade será trocada pelo capim? O salário vale mais do que o apreço (que não tem preço)? O liberalismo fica manco sem a perna política? De qual sustentabilidade falávamos? Aparentemente, são questões simples, mas podem dividir uma sociedade e isso sempre é complicado.

Quando a Inglaterra teve que desmontar o império, a joia mais preciosa era a Índia. Durante o processo de independência, por razões históricas, religiosas culturais, o líder muçulmano Muhammad Ali Jinnah insistiu na separação, com a criação de um novo país.

Gandhi sonhava com a coexistência entre hindus e mulçumanos, mas seu discípulo, Nehru, sabia que era um sonho impossível, até porque a violência já estava nas ruas. Os três líderes, no entanto, eram preparados, sabiam com o que lidavam e, apesar de opostos, conversavam. Concluíram pela mudança e pelo futuro.

A tarefa de riscar o mapa coube ao atormentado Sir Cyril Radcliffe, que passou o lápis apelando para acidentes geográficos. Infelizmente, premido pelo tempo, Sir Cyril não pôde considerar as pessoas (quase 100 milhões) na nova linha fronteiriça. Quem ficou do lado errado, perdeu a cabeça. Nos dois sentidos.

No caso, a separação coube no papel e na realidade, ao evitar um conflito sem fim na região. Já as divisões estimuladas por projetos não civilizatórios nem o papel aceita.

Na Índia daqueles tempos aconteceram histórias de independência, construção e reconstrução. A quem se interessar, sugiro que leia, pelo menos, oito livros sobre o tema. Pode ajudar a pensar no que nos espera.


*Carlos Augusto Junqueira de Siqueira,  advogado


reconstruções, Reconstruções, Capital Aberto


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