Estão a cada dia mais intensas as tensões sociais ao redor do mundo, em decorrência de um cenário que envolve desigualdade, desemprego, desafios de aposentadoria, pressão da tecnologia sobre a oferta de trabalho, dentre muitas outras questões. E também fica mais patente a incapacidade dos governos para encontrar soluções, o que torna fundamental o engajamento das empresas e da sociedade civil nessa jornada.
No Brasil, particularmente, os desafios sociais são imensos. O Estado brasileiro, apesar de cobrar elevados impostos, oferece como contrapartida serviços insuficientes em educação, saúde, infraestrutura, segurança e em muitas outras esferas. Cabe ressaltar que a educação é o vetor mais transformador em uma sociedade — é fundamental para a mobilidade social, que, por sua vez, é essencial para o combate à desigualdade e para a redução da pobreza. Estudo da Oxfam (instituição global que tem como objetivo combater pobreza, desigualdade e injustiças) concluiu que a mobilidade intergeracional na América Latina é muito baixa porque a qualidade da educação difere muito entre as classes sociais.
A conscientização das empresas a respeito de seu propósito social muitas vezes implica mudança de cultura. Trata-se de um processo desafiador, mas inevitável. E o que podemos falar sobre o engajamento da sociedade civil brasileira?
Por aqui, a população carrega, historicamente, uma cultura que tende a ser mais passiva e permissiva, com uma postura pouco crítica — em síntese, aspectos solidificados por uma arraigada estrutura patriarcal. Quando notam que suas necessidades e/ou direitos não são observados, brasileiros tendem a aceitar e/ou se vitimizar em vez de questionar. Se, de maneira diversa, a população adquirisse consciência de sua participação, mesmo que involuntária, nos processos, poderia perceber que na verdade é protagonista — e, como tal, apta a provocar mudanças. Esse novo posicionamento, dependente de uma mudança cultural, pode desencadear uma grande transformação no País.
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Nesse movimento, há desafios relevantes que precisam ser endereçados, a saber: baixo espírito de cidadania, com objetivos calcados no “eu” (ideológicos, pessoais e/ou partidários); passividade, decorrente de muitos fatores, dentre eles baixa escolaridade, dificuldade para compreensão de temas, ceticismo (“não vai dar em nada, pra que fazer?”) e desconhecimento do potencial para exercício do protagonismo; e intensa polarização da sociedade em torno de algumas questões, o que obstrui os canais de diálogo.
É fundamental, mesmo diante de todos esses desafios, que a sociedade brasileira assuma o protagonismo que lhe cabe, trabalhando as pautas de interesse comum, sendo saúde, educação, transporte e segurança os temas-chave. O trabalho de autoconhecimento contribui para que as pessoas assumam responsabilidade por suas ações e, consequentemente, por suas vidas. Reconhecer-se protagonista empodera, contribui para o crescimento pessoal e para o amadurecimento do indivíduo. Exercer conscientemente o papel de protagonista é salutar e prazeroso.
Importante registrar uma iniciativa recente do Ministério Público Federal (MPF). Como representante da sociedade, o órgão promoveu no último mês de setembro, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), seu primeiro Ideathon, com o objetivo de encontrar soluções para desafios do país. O evento contou com a participação de estudiosos, empreendedores, servidores públicos e cidadãos em geral, que debateram propostas sobre protagonismo da sociedade, gestão administrativa e atendimento ao público. Os participantes foram instigados a associar ciência, tecnologia e inovação para desenvolver soluções que beneficiam a sociedade.
O engajamento da sociedade civil brasileira é crescente, mas ainda é muito tímido se comparado ao que se vê em outros países; assim, precisa ser fomentado e incentivado constantemente. A divulgação de casos inspiradores de exercício de cidadania tem o poder de inspirar as pessoas, de forma a levá-las a agir. Casos simples têm ainda o efeito de mostrar que todos podemos — e devemos agir. Afinal, é imperativo fazer o Brasil avançar.
*Ana Siqueira, CFA ([email protected]) é sócia fundadora do Artha Educação
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