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Pressão por um capitalismo com visão de longo prazo
Investidores e empresas têm papéis fundamentais nessa relevante mudança na lógica do sistema
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*Luciana Antonini Ribeiro | Ilustração: Julia Padula

As discussões sobre os modelos possíveis para o capitalismo e a longevidade da lógica que rege esse sistema econômico saíram dos meios acadêmicos, ganharam as mesas de reunião e hoje estão nas mídias de negócios. A visão do professor Milton Friedman — em 1962 ele afirmou que as empresas tinham responsabilidade exclusivamente com seu acionistas, sem qualquer responsabilidade social — deixou de ser consenso. Há uma defesa a cada dia mais intensa da ideia de que é possível um capitalismo atuante em favor do bem comum e comprometido com retornos financeiros de médio e longo prazos. Um dos grandes desafios é justamente o abandono de uma perspectiva  de lucro a qualquer preço. Uma mudança complexa, lenta, mas necessária para criação de valor para todos os stakeholders, inclusive para os acionistas.

Estudo do Pacto Global das Nações Unidas feito com cerca de mil CEOs em todo o mundo verificou que 84% dos entrevistados compreendem o novo papel dos negócios, que envolve “reunir esforços para definir e entregar novas metas que atendam questões prioritárias”. No entanto, apenas um terço declara estar de fato “fazendo o suficiente para resolver desafios globais”. A boa notícia é que quem perceber esse novo momento e se dedicar a construir e a apoiar soluções para benefícios comuns colherá maior rentabilidade e valor agregado — o que vale tanto para investidores quanto para empresas.

Recentemente, a consultoria Mckinsey publicou “Retorno Financeiro com Propósito”, documento que mostrou as vantagens econômicas, ambientais e sociais para quem escolhe fazer negócios que partem de um objetivo bem mais amplo do que a busca desmedida pelo lucro no curto prazo. O retorno financeiro vem desse foco na entrega de respostas duradouras para questões urgentes em diferentes áreas — saúde, educação, gestão de resíduos e inclusão digital, entre tantas outras.

De acordo com esse relatório, quem tivesse investido um dólar no início de 1993 em um portfólio de empresas comprometidas com a construção de soluções chegou a 2010 com 22,60 dólares. Se o mesmo dólar tivesse sido destinado a negócios pouco conscientes e ativos quanto às suas responsabilidades sociais e ambientais o retorno seria bem menor, de 15,40 dólares. Os resultados sugerem, segundo os autores, que uma cultura corporativa conectada com as demandas globais de sustentabilidade é o que garante maior vantagem competitiva no longo prazo.

Esse novo jeito corporativo de caminhar se fortalece a cada dia, impulsionado por pressões econômicas, fissuras sociais e questões ambientais. E tem o apoio de 181 CEOs das maiores empresas americanas, da Apple ao Walmart, signatários do já famoso manifesto de 2019 da Business Roundtable. A carta aberta diz que a era da supremacia do retorno financeiro a qualquer custo está diante de uma nova realidade, concluindo: “Cada um dos stakeholders é essencial. Nós nos comprometemos a entregar retornos positivos a todos eles, para o sucesso da nossa empresa, das comunidades nas quais estamos inseridos e do nosso país”.

Na prática, trata-se de uma abertura para as empresas repensarem as próprias relações com clientes, funcionários, fornecedores, comunidades e acionistas. Este é o momento de refletir sobre como redesenhar os negócios e investimentos para que, na busca pelo lucro, sejam pavimentadas soluções para benefícios comuns. É uma questão de rever objetivos e concentrar esforços para resolver desafios que favoreçam a todos, no longo prazo — mas sempre respeitando o retorno financeiro, sem o qual fica impossível para uma empresa seguir adiante.

Para se ter a dimensão do poder de transformação envolvido no posicionamento da Business Roundtable, basta pensar em termos de força econômica. Hoje, 69 das 100 entidades mais ricas do planeta são empresas, não governos; no top 200, as empresas são 157, com receitas somadas superiores aos PIBs de países como Rússia, Bélgica e Suécia.

A necessidade de revisão do capitalismo não é conversa de agora. Para citar apenas um exemplo, em 1999 Kofi Annan, então secretário-geral da ONU e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, falecido no ano passado, apresentava no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, uma proposta para centenas de executivos: “Que vocês, líderes empresariais, e nós, as Nações Unidos, iniciemos um pacto global de valores e de princípios que dará uma face humana ao mercado global”. Kofi Annan já alertava, há 20 anos, que o desequilíbrio entre os setores econômico, social e político não se sustenta no longo prazo.


*Luciana Antonini Ribeiro ([email protected]) é sócia-fundadora da EB Capital


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