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Pandemia acelera digitalização e reforça apagão de mão de obra
Um abismo separa boa parte da população brasileira das novas demandas do mercado de trabalho
Colunista Luciana Antonini Ribeiro

*Luciana Antonini Ribeiro | Ilustração: Julia Padula

Desde o início da pandemiasomos bombardeados por notícias sobre o crescente uso da tecnologia. Forçados a permanecer em casa, migramos trabalho, estudo e entretenimento — além dos convívios social e familiar —para o ambiente das redes. Muitos dizem que a covid-19 acelerou, em pelo menos dez anos, a digitalização de setores que faziam vista grossa para a disrupção tecnológica. E, dadas as limitações de acesso à infraestrutura básica de rede e à capacitação mínima da populaçãoesse avanço tecnológico avassalador pode aprofundar, e muito, a triste situação ddesigualdade social brasileira. 

O ano de 2020 começou com 11,2% de desempregados no Brasil. Em maio, esse número chegou a 12,9%, quase 13 milhões de pessoas sem trabalho. Com a pandemia e a economia mundial em criseencontrar uma nova posição se mostrou ainda mais difícil, principalmente, em ocupações que têm a capacidade de levar o País a um ciclo de prosperidade inclusivo.  

E não se trata de falta de vagas. Elas existem, mas para quem pode se qualificar, para quem tem acesso à infraestrutura básica de conexão — vale lembrar que apenas uma parcela reduzida da população se beneficia de banda larga de qualidade. A covid-19 acentuou lacunas já existentes e tornou mais desafiador reorganizar, de forma digna e justa, um mercado de trabalho cambaleante.   

Um exemplo da complexidade desse tema aparece nas enormes filas que se formam por uma vaga, enquanto sobram oportunidades não preenchidas por falta de qualificaçãoO apagão de mão de obra no Brasil, segundo levantamento da empresa de recrutamento Korn Ferry, chegaria a 1,8 milhão de vagas neste ano; em 2030, haveria 5,7 milhões de vagas ociosas ou com colaboradores sem as competências ideais. Quem ousa arriscar um quadro mais positivo depois dessa avalanche tecnológica? 

Com a maior automatização e a migração de negócios e de serviços para o ambiente online  só o governo federal passou a oferecer 150 novos atendimentos pela internet durante a pandemia —, a tendência é de se excluir ainda mais pessoas do novo mercado de trabalho, que requer outros perfis profissionais para a continuidade e a evolução no homeoffice, no homeschooling, no comércio eletrônico, no desenho de aplicativos, na telemedicina, só para citar alguns segmentos. 

Se houver esforço coletivo entre governos e capital privado para reverter esse quadro, podemos desenhar um futuro de mais esperança. Cabe citar a iniciativa da Porto Seguro, que acaba de lançar um fundo de 100 milhões de reais para criar 10 mil vagas, com salários mensais de 1,5 mil reais, e oferecer capacitação e formação para o mercado de seguros. Imagine-se o efeito de ações semelhantes para qualificação de profissionais da saúde, em grande demanda e insuficientes, como ficou claro nesta pandemia.  

O Fórum Econômico Mundial se adiantou em apresentar soluções por compreender a gravidade dquadro: lançou, no encontro anual de janeiro passado, a chamada “revolução da requalificação. A ideia é oferecer, em parceria com diferentes países e empresas, melhores empregos, educação e treinamento para 1 bilhão de pessoasnos próximos dez anos. 

Movimentos em sintonia com as novas demandas do trabalho são bem-vindos, como a revolução dos call centers, mais do que necessáriaHá muito se fala em transformar o atendimento num serviço remoto. Não haveria deslocamento, os horários seriam flexíveis viáveis — o que é especialmente positivo para uma população feminina carente de boas alternativas em relação ao cuidado dos filhos, situação que se agravou com escolas e creches fechadas. 

Para expandir oportunidades, os call centers poderiam migrar para o interior do Brasil, para cidades menores. Seria um ganha-ganha imenso, mas que também depende de qualificação tecnológica e infraestrutura de rede. Sem isso, não há como traçar um caminho para a prosperidade que inclui e proporciona melhores condições a todos.  

A digitalização da economia é um percurso natural que agora ocorre à força. Como imaginar voltar a oferecer produtos e serviços do jeito antigo? Como retornar aos escritórios depois da adoção em massa do trabalho remoto? O momento é de observação das novas exigências de empregabilidade e de busca de soluções a partir delas. Porque, apesar dos investimentos privados em educação nos últimos anos, especialmente no ensino superior, o desafio para enfrentar este e os cenários futuros continua imenso.


*Luciana Antonini Ribeiro ([email protected]) é sócia-fundadora da EB Capital

 


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