A morte de George Floyd reacendeu — não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro — o movimento Black Lives Matter, que traz à luz discussões sobre desigualdade, falta de liberdade e violência contra afrodescendentes. Diante de estatísticas que mostram serem os negros os principais alvos da brutalidade policial, os protestos reforçaram demandas que incluem desde a redefinição da conduta dos agentes até o redirecionamento de verbas públicas originalmente destinadas à manutenção da polícia para outras finalidades de cunho social. Enquanto em levantes anteriores o mundo corporativo preferiu permanecer afastado das discussões, desta vez as empresas e seus líderes estão sendo chamados a tomar posição.
De acordo com pesquisa conduzida entre 31 de maio e 1º de junho pela consultoria Morning Consult junto a 1.990 adultos americanos de diferentes etnias e idades, é consenso que as empresas não devem permanecer em silêncio. Mais que isso: a maioria dos entrevistados disse que a posição tomada deve influenciar sua decisão de tornar-se ou permanecer consumidor de uma determinada marca. As mesmas tendências foram apuradas pela consultoria de relações públicas Edelman em levantamento semelhante feito com 2 mil pessoas entre 5 e 7 de junho. Essa sondagem verificou que 60% dos americanos boicotariam ou não uma determinada marca com base no posicionamento adotado pela empresa em relação à morte de Floyd.
Tomara que as reações das mais variadas empresas em defesa dos movimentos em prol da igualdade étnico-racial tenham sido motivadas por uma real consciência social e não apenas pelo risco reputacional. Posts em redes sociais com a hashtag #BlackLivesMatter, conforme fizeram TikTok, Amazon, Netflix, JPMorgan, Twitter, Citigroup, dentre diversas outras, foram a primeira atitude.
Na sequência, vieram os anúncios de doações milionárias para instituições dedicadas à proteção de direitos civis e à promoção de justiça para afrodescendentes. Segundo apurado pelo jornal Financial Times, até 8 de junho companhias americanas já haviam se comprometido a fazer doações que superavam a cifra de 450 milhões de dólares, aí incluídos nomes como Walmart, Warner Music, Sony Music, Nike, Amazon, Facebook, Google, Spotify, Apple, Goldman Sachs, Target, United Health, Verizon, Cisco, Procter & Gamble, Walt Disney, Lego, Microsoft, Intel, PwC, Reddit, Starbucks, Uber, Yelp Foundation e Essentia Water.
Claro que esse dinheiro é muito bem-vindo, ainda mais neste momento especialmente difícil para entidades que sobrevivem de doadores. No entanto, as empresas e seus executivos precisam ir muito além de tuítes com hashtags populares e doações. Elas precisam olhar para dentro e (re)avaliar antigas práticas corporativas para que essas estratégias de marketing social não sejam hipócritas e oportunistas — ou seja, para não escorregarem rumo ao “social impact washing”. Não adianta defender igualdade racial, igualdade de gênero e diversidade sexual da porta para fora e ter um comitê executivo formado exclusivamente por homens brancos e heterossexuais.
Os atuais protestos, além de alertarem para velhos problemas sociais, reafirmam a tendência de que investidores e consumidores estarão cada vez mais atentos aos atos e à responsabilidade das empresas perante a sociedade e propensos a privilegiar com investimento e consumo as empresas alinhadas ao conceito ESG (sigla em inglês para aspectos ambientais, sociais e de governança). Está todo mundo com o radar ligado, afinal.
*Walter Pellecchia, advogado especialista em mercado financeiro, integrante do escritório Reed Smith LLP em Londres ([email protected]). O texto reflete opiniões do autor e não deve ser considerado como consultoria de qualquer natureza.
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