Lançado no início do mês de abril, o manifesto #nãodemita recebeu, em apenas uma semana, a adesão de 3 mil empresas dos mais diferentes portes. O objetivo da iniciativa, da qual o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) foi um dos apoiadores de primeira hora, é fazer com que as empresas se comprometam a manter todos os seus colaboradores por um prazo de dois meses. A estimativa é de que sejam mantidas 1,5 milhão de vagas. O manifesto vai além, incentivando seus apoiadores a honrar compromissos com fornecedores e a contribuir para preservar os empregos também em toda a cadeia de que fazem parte.
O momento é atípico e desafiador para todos, mas exatamente em momentos assim é preciso privilegiar ações de cidadania. Em algumas empresas talvez não seja possível manter intacto o quadro se a crise se prolongar. Porém, mais do que selar o compromisso em si, a iniciativa tem o mérito de chamar a atenção para o que deve ser prioridade dos líderes: as pessoas. E também serve para que reflitam sobre cada decisão, evitando que a premência de ações para reverter as dificuldades leve à multiplicação desses obstáculos.
As pessoas — e a sociedade como um todo — são a primeira dimensão a ser considerada dentro dos princípios da governança corporativa, cujos fundamentos básicos são atemporais. Uma crise, por mais grave que seja, não pode, em circunstância alguma, servir como justificativa para relegá-los ao segundo plano. Pelo contrário: servem como um suporte importante para superação de momentos de incerteza. É a eles que todas as organizações devem recorrer para encontrar soluções.
Manter a atenção nos colaboradores e seus familiares, fornecedores, terceiros e demais stakeholders e adotar medidas para que se mantenham saudáveis e bem tratados deve ser a prioridade tanto dos conselhos de administração quanto das lideranças executivas no atual momento. Em situações de crise, conselheiros e executivos precisam estar muito próximos e estabelecer uma comunicação imediata e clara para que os primeiros possam dar o apoio necessário aos processos de tomada de decisão, que em geral devem ser feitos em prazos exíguos.
As outras dimensões que precisam necessariamente estar na pauta de conselheiros e líderes são a administração do caixa, que deve ser preservado de forma a manter somente os desembolsos essenciais à continuidade dos negócios; a gestão de riscos; e, num contexto mais estratégico, a análise de projetos que possam apoiar a retomada após a crise. Em todas elas, as decisões devem ser orientadas pelos princípios essenciais da governança: transparência, equidade, responsabilidade corporativa e prestação de contas.
Nesse contexto, a transparência se dá por meio do estabelecimento de uma comunicação clara e responsável, importante para manter a confiança e o espírito de corpo em torno de um objetivo comum. A equidade está no tratamento justo e equânime, levando em consideração os interesses e as necessidades de colaboradores e seus familiares, fornecedores, clientes e terceiros. A responsabilidade corporativa envolve a busca de soluções não apenas visando o negócio, mas também seus efeitos sobre a sociedade como um todo. Afinal, a organização só existe como parte de um sistema econômico e social e só pode ser bem-sucedida se esse sistema estiver equilibrado — a sustentabilidade de qualquer negócio depende diretamente da maneira como a organização exerce essa cidadania corporativa.
Não devemos esquecer que toda a crise tem fim. Por isso é importante, desde já, desenhar cenários possíveis e avaliar novas formas de se fazer negócios. Considerando, inclusive, a alta probabilidade de que a pandemia da covid-19 provoque uma mudança definitiva no comportamento e nos hábitos de consumidores.
Mas, mais importante de tudo, refletir continuamente se estamos realmente fazendo o nosso melhor na dimensão de empresa cidadã.
*Henrique Luz ([email protected]), CCIe, é membro independente de conselhos de administração e presidente do conselho de administração do IBGC
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