Derivativos, aliados das empresas
Fábio Zenaro* (Ilustração: Rodrigo Auada)

Fábio Zenaro* (Ilustração: Rodrigo Auada)

No atual cenário macroeconômico, é curioso constatar que, apesar do longo histórico de volatilidade do País, continua grande a quantidade de empresas que não adotam estratégias preventivas de hedge cambial. Há uma série de mecanismos de gestão de risco e proteção disponíveis no mercado, como os derivativos, por exemplo. Esses instrumentos podem ainda sofrer uma certa discriminação no País — por causa de incidentes emblemáticos provocados pelo seu uso equivocado por empresas nacionais em 2008. No entanto, o fato de as empresas não empregarem esse importante recurso de gestão de riscos de mercado está mais associado a desconhecimento.

Num momento em que fica cada vez mais clara a necessidade de adoção de medidas de minimização de impactos financeiros, é interessante esclarecer o devido funcionamento dos diferentes tipos de derivativos. Além disso, é importante enfatizar todos os benefícios por eles proporcionados à saúde financeira de qualquer empresa que se veja obrigada a enfrentar mudanças imprevisíveis nas relações de apreciação ou depreciação entre moedas ou outros tipos de ativos.

Antes de tudo, porém, é conveniente pontuar e desmistificar as possíveis aplicações dos derivativos no mercado financeiro. A utilização desses instrumentos pelas empresas deve sempre ser guiada pelo objetivo de proteção contra exposições ou descasamentos existentes em seus balanços (hedge) — nunca com objetivo de posicionamento ou, em outras palavras, de maneira especulativa. É o uso não consciente e não planejado de derivativos, para especulação, que pode levar a desequilíbrios inesperados como os observados no passado. Se operados adequadamente, os derivativos são aliados fundamentais do vigor financeiro das empresas.

O emprego de derivativos para proteção contra variações cambiais, por exemplo, proporciona a previsibilidade de custos e receitas futuras em moeda estrangeira. Uma companhia importadora que deseje “travar” a cotação de compra do dólar (ou de alguma outra moeda) em um valor que seja adequado para seu planejamento de caixa pode, entre outras opções, firmar com uma instituição financeira um contrato chamado “termo de moeda”. Com ele, a empresa garante, em reais, o valor das despesas em dólar oriundas da importação. Para o exportador, que, ao contrário, lida com a venda de moeda estrangeira, o instrumento é útil para se fixar o valor de recebíveis em reais em um nível que seja atrativo para a sua situação. Esse contrato, portanto, é de fácil compreensão e geralmente é escolhido pelas empresas para gestão de exposições cambiais relacionadas a transações comerciais.

Outro derivativo disponível no mercado brasileiro é o swap, que dá à empresa a possibilidade de trocar o índice ou o indexador de um passivo ou ativo. No caso da existência de um financiamento em moeda estrangeira (e, consequentemente, do risco de aumento do passivo em reais com eventual apreciação do dólar), o uso do swap permite que a empresa troque o passivo em dólares por um passivo em CDI (swap USD x CDI) ou atrelado a outro indexador mais adequado ao balanço. Normalmente, o swap é adotado para proteção de empréstimos e financiamentos, ou, ainda, para se assegurar certa previsibilidade em emissões de bonds em moeda estrangeira.

A Cetip faz o registro de 11 modalidades de derivativos de balcão usadas no País. Em 2015, o volume em “termo de moeda” atingiu USD 390,5 bilhões, mantendo-se estável em relação a 2014, ano também volátil em que foi atingida a marca de USD 399,5 bilhões, o recorde de utilização do instrumento. Se retroagirmos um pouco mais, vemos que o movimento se intensificou no final de 2013 – com contratação de USD 290 bilhões -, cresceu em 2014 e se manteve em 2015. O que temos agora é renovação, ou seja, as empresas recompõem posições, até porque os contratos não são muito longos.

O volume de derivativos registrados no Brasil aumentou a partir do segundo semestre de 2013 em função do movimento de alta do dólar e de um ambiente de maior volatilidade — que se agravou ainda mais em 2015. Percebe-se um uso mais intenso dos instrumentos derivativos pelas empresas nos últimos anos, bem como uma conscientização da necessidade de adoção de uma política ativa de hedge por parte dos gestores. A quantidade de companhias que operam com esses instrumentos, contudo, ainda é relativamente pequena. Isso sugere a necessidade de um aprofundamento das discussões sobre o tema e da ideia de que os derivativos são um grande aliado das empresas.


*Fábio Zenaro ([email protected]) é superintendente de produtos da Cetip


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.