Padrões mínimos para investimentos de impacto
Diretrizes da IFC devem garantir maior clareza sobre retornos reais à sociedade
Luciana Ribeiro

Luciana Ribeiro* / Ilustração: Julia Padula

Muito se tem falado sobre investimentos de impacto social, econômico ou ambiental. O tema ganha corpo à medida que uma nova geração de investidores — notadamente os millennials — assume o gerenciamento de grandes fortunas. Eles partem da premissa de que um portfólio de investimentos deve gerar efeitos positivos para a sociedade. Nesse cenário, as tradicionais etapas “ganhar dinheiro, não importa como” e “fazer filantropia depois” já não dialoga com muitos investidores relevantes.

A expansão de iniciativas de fomento aos chamados investimentos com propósito é um termômetro da rápida mudança por que passa o mundo. Um bom exemplo é o Impact Management Project, criado em 2016. Trata-se de uma rede de pessoas que compartilham a crença de que empresas e investidores devem ter uma visão holística a respeito de seus impactos na sociedade. Esse ponto de vista se baseia nos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODSs), lançados pela ONU. Vêm deles os estímulos à divisão do retorno favorável dos investimentos e à revisão de processos e portfólio de forma que os impactos positivos sejam ampliados.

Há poucas semanas, a International Finance Corporation (IFC), instituição vinculada ao Banco Mundial, deu outro passo importante para catalisar a atuação desses investidores e empresas, com o lançamento dos princípios operacionais para gestão de impacto. O projeto ainda passará pela apreciação de investidores, empresas, acadêmicos, governos e representantes da sociedade civil, mas deve estabelecer padrões mínimos globais para definição e mensuração de investimentos de impacto.

No entanto, ao se tornar o conceito mais abrangente, descobrem-se desafios, principalmente em relação à medida e à melhor forma de gestão. Múltiplos sistemas coexistem, e a comparação entre impactos gerados pelos ativos diversos é de alta complexidade. Em um ambiente nascente, essa falta de consenso, ainda que natural, não é positiva, ainda mais se for considerado o fato de que os maiores fundos de pensão, family offices e fundos de private equity do mundo estão despertando para os retornos financeiros dos investimentos de impacto, buscando algo tangível.

Os princípios operacionais da IFC são fundamentais por darem clareza aos investidores

— eles saberão que escolheram uma iniciativa que oferece retorno real positivo para sociedade, e não um mero greenwash. A versão final deve ser apresentada em abril de 2019; por enquanto, o projeto tem nove macroprincípios, listados a seguir.

— Definição do(s) objetivo(s) estratégico (s) de impacto consistente(s) com a estratégia de investimentos e alinhada às ODSs ou a algum outro modelo largamente aceito.

— Gestão de impactos e retornos financeiros, no nível do portfólio.

— Contribuição do investidor para obtenção do impacto pretendido.

— Avaliação do impacto esperado de cada investimento, sob uma perspectiva sistêmica, respondendo de acordo com a métrica mais adequada. Qual o impacto? Quem se beneficiará? Quão significativo é o impacto?

— Análise, monitoramento e gerenciamento de potenciais efeitos negativos de cada investimento.

— Monitoramento do progresso de cada investimento para se atingir o impacto previsto.

Observação dos efeitos que o tempo, a estrutura e o processo de saídas terão na sustentabilidade do impacto.

— Revisão, documentação e evolução das decisões e processos, baseados em impactos atingidos e aprendizados.

— Apresentação pública anual do alinhamento aos princípios e verificação independente e regular da extensão desse alinhamento.

Os princípios operacionais para o gerenciamento de impactos da IFC fazem parte de uma tendência mais ampla de harmonização dos esforços do setor privado para geração de resultados sociais e ambientais positivos. O grande mérito do projeto, a meu ver, é a possibilidade de pacificar conceitos e atrair mais capital para a busca de impactos positivos para as sociedades e para o planeta. É preciso escalar o setor, tornando a visão de impacto default em qualquer investimento.


*Luciana Ribeiro ([email protected]) é sócia-fundadora da EB Capital, firma de investimento focada em middle Market

 

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