Métricas claras contribuem para avanço dos investimentos de impacto
Sistematização de referências para avaliação de negócios e retornos garante salto desse segmento
Luciana Ribeiro

Luciana Ribeiro* / Ilustração: Julia Padula

O cenário global exige novos olhares dos investidores, perspectiva que certamente conduzirá uma verdadeira transformação no papel dos negócios. É cada vez maior o número de grandes players mundiais que, antes de tomar uma decisão de investimento, avaliam os impactos sociais e ambientais e a conduta ética das empresas. Já é praticamente um consenso que todo ativo gera impacto — assim, fazer escolhas que levem o mundo a um futuro melhor é o caminho mais sábio, para todos.

Em 2018, o CEO da gestora BlackRock, Larry Fink, escreveu em sua carta anual que em pouco tempo todas as empresas precisarão informar seu propósito; deverão, segundo ele, indicar como contribuem (mesmo indiretamente) para a solução de lacunas estruturais em saúde, educação, acesso a serviços básicos e questões ambientais, por exemplo. A avaliação de Fink é um símbolo da visão sistêmica do portfólio como estratégia para este novo momento.

Renomadas organizações lideram o desenho de modelos mais sofisticados do que pode ser considerado impacto. Um bom exemplo é o trabalho do Impact Management Project (IMP), resultado da dedicação de pelo menos 2 mil empreendedores e investidores unidos em torno de um objetivo: alinhar o entendimento a respeito do impacto de um investimento, considerando abordagem, gerenciamento e mensuração. Depois de várias discussões, o IMP chegou a cinco dimensões de impacto (cada uma associada a perguntas-chave): o que, quem, quanto, contribuição e risco. Esses são os fios condutores para que empreendedores e investidores balizem suas escolhas, estabeleçam metas e possam avaliá-las. A seguir apresentamos alguns detalhes de cada uma das dimensões.

“O que”. As perguntas associadas a essa dimensão auxiliam empresas e investidores a compreender como contribuem para os resultados e a magnitude de sua importância para todos os stakeholders envolvidos — todos mesmo, incluindo o planeta. Na prática, 100% das empresas causam impacto, sejam positivos ou negativos, intencionais ou não. O IMP propõe que sejam consideradas todas as facetas, especialmente os impactos não desejados. As perguntas dessa dimensão são: resultados em determinado período, sua importância para os stakeholders, sua suficiência e sua ligação com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODSs) da ONU.

“Quem”. A relevância dessa dimensão está em evidenciar quem vivencia os impactos de um negócio, tanto sociais quanto ambientais. Com informações sobre a situação de escassez ou abundância de determinado grupo ou ambiente, é possível direcionar recursos para quem realmente precisa. As perguntas-chave são: quem, em que área geográfica, qual era a situação dos stakeholders antes do começo dos negócios e qual o perfil dos stakeholders.

“Quanto”. Essa dimensão trata da relevância dos resultados de um negócio em relação a três aspectos: escala (número de pessoas afetadas), profundidade (grau de transformação vivenciada pelos stakeholders) e duração (tempo de experiência dos resultados). Esses dados oferecem insights complementares, pois partem de uma observação cuidadosa sobre resultados que emergem de diferentes relações.

“Contribuição”. Dimensão em que se analisa a contribuição da empresa para os resultados sociais ou ambientais, considerando o que teria acontecido independentemente de sua atuação. Afinal, em muitos projetos, há outras forças atuando em paralelo ou em conjunto, como governos e organizações não-governamentais. As perguntas se repetem, mas com alteração de foco: profundidade (a contribuição de uma empresa para um resultado, considerando o grau estimado de mudança que teria acontecido de outra forma); e duração (a contribuição para a perenidade de um resultado, considerando o tempo estimado do resultado sem o projeto).

“Risco”. Com o propósito de promover impacto, que riscos investidores e empresários podem gerar? Como podem avaliar e mitigar essas ameaças para o planeta e para as pessoas? Essa dimensão avalia a probabilidade de o impacto ser diferente do esperado e auxilia ajustes em modelos de negócio iniciais. As perguntas relacionam-se a tipo e grau de risco.

Com base nessa visão sistêmica da análise de impacto, grandes players têm acompanhado, com métricas claras, como afetam os demais stakeholders a partir de seus investimentos. A Root Capital, por exemplo: alinhada com o IMP, organizou uma ferramenta que permite ao investidor entender o impacto do portfólio e fazer seleções mais conscientes — lembrando que ele pode escolher entre pelo menos 200 tipos de investimento oferecidos pela Root, instituição sem fins lucrativos que promove melhorias na vida de trabalhadores rurais, conectando-os à economia formal. É um caso concreto dessa nova história de investimentos e negócios mais conscientes da sua força transformadora.


*Luciana Ribeiro ([email protected]) é sócia-fundadora da EB Capital


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