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E quando a crise passar?
Alexandre Fialho*

Alexandre Fialho*

Com a confirmação do impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil seguirá rumo ao processo de recuperação de uma das maiores e mais profundas crises da sua história. Este é um momento em que os empresários e executivos devem se ater ao “dia seguinte”, ou seja, à próxima dinâmica que o País enfrentará. Essa postura se faz crucial frente à sensação arraigada de que nós, brasileiros, somos vacinados contra crises e que estamos acostumados tanto a confrontá-las quanto a aproveitar as oportunidades que oferecem.

O “dia seguinte” será o momento no qual, mesmo com as feridas ainda abertas e as bases macro e microeconômicas bastante frágeis, haverá a confirmação de que o pior já passou. E, mais do que isso: muitas travas se desfazem pelo aumento da credibilidade e dos investimentos; créditos voltam a aquecer o cenário econômico local. Essa combinação abre portas seletas de oportunidades, o que é bem diferente de uma retomada tradicional da economia na qual o vento sopra para todos — e em várias direções.

A sensação de que temos a sabedoria de passar por crises faz sentido, dada a nossa resiliência diante das dificuldades já vividas. Nossa gangorra econômica, típica de um país em desenvolvimento que nunca tornou sustentável nenhum ciclo de prosperidade (não fizemos o dever de casa como o fez a Coreia do Sul, por exemplo), passa pelo fundo do poço, deixando um rastro de devastação que pode ser resumido em dois importantes indicadores: elevados índices de insolvência das empresas e de desemprego.

Porém, a pretensa percepção de que os calos culturais de crises passadas nos tornam capazes de navegar no pós-crise com maestria, essa sim é uma falácia, pois não será de resiliência que se nutrirão os grandes atores deste novo tempo. Tanto pelas peculiaridades desta crise quanto pela perspectiva de um contexto também singular, temos, na verdade, uma grande armadilha em nossa experiência de crises, e não um ativo.

Comecemos pelas particularidades desta crise: de natureza interna e não externa, de base mais política (a devastação econômica foi consequência), com esgotamento de diversas dinâmicas tradicionais de mercado que sustentavam uma corrupção sistêmica. Para ilustrar esse cenário, basta notarmos que hoje é mais fácil encontrar cidadãos de média formação sabendo os nomes dos ministros do Supremo do que os dos jogadores da seleção brasileira de futebol.

Passando agora pelas singularidades do contexto atual: vale destacar que, bem diferente do que ocorreu em décadas passadas, nossas organizações estão sob a liderança de uma massa de executivos muito bem formada e com robustez operacional e financeira, base da formação e da trajetória da maioria dos CEOs. Eles já fizeram o máximo de esforço, nos últimos quatro anos, para driblar e sobreviver diante da crise. Esgotaram todas as suas armas, enxugaram, reestruturaram, focaram o core business. Fizeram o que sabem fazer: conta e uso da racionalidade com a precisão e a complexidade demandadas pelo momento. Mas o “dia seguinte” exigirá mais: mais empreendedorismo que execução para quem quiser prosperar e não apenas sobreviver; mais razoabilidade que racionalidade para quem quiser enxergar as portas seletas de oportunidades; mais tomada do que gestão de riscos para quem quiser ser protagonista do futuro, em vez de vítima do passado. Não há cenário ou métricas para que os mestres da racionalidade atuem como “traders”.

Viveremos um momento pós-crise ainda não experimentado pelo empresariado brasileiro. O tradicional “back to the basic” como modelo de retomada se assemelha a querer tratar uma doença grave com xarope da vovó. Será preciso entrar em estado de alerta, de não conformismo. Será preciso mais coragem do que estratégia. E não se trata da coragem executiva para buscar resultados, mas sim da coragem empreendedora que gera valor, que garante arrojo e criatividade para se agir antes mesmo de se ter uma leitura mais clara do mercado.

É fato que esse movimento de transformação dos líderes e, consequentemente, das organizações, causa desconforto em alguns executivos com fetiche de previsibilidade e controle. Mas é justamente desse fetiche que eles precisam se livrar, já que a diferença entre a ousadia do empreendedor e a racionalidade do executivo é o que vai revelar os grandes players do futuro.


*Alexandre Fialho ([email protected]), mestre em filosofia com MBA em gestão e finanças, é CEO da consultoria Filosofia Organizacional.


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