Disputas societárias comprometem futuro das empresas
Renato Bernhoeft*

Renato Bernhoeft*

O noticiário brasileiro recente tem tornado cada vez mais público um significativo aumento dos conflitos e disputas entre sócios, acionistas e investidores. E esses episódios, vale registrar, não aparecem apenas nas editorias de economia: em muitos casos, de forma bastante constrangedora, eles também têm ocupado espaço nas coberturas de legislação e tributos — e chegam até às páginas policiais.

Embora esse fenômeno — o de conflitos societários — não seja novo, o que se observa hoje no Brasil é um expressivo e preocupante aumento em proporção geométrica de divulgação pública de acontecimentos que tradicionalmente eram considerados privados.

Um olhar mais atento, mas sem necessariamente de grande profundidade (até por falta de estatísticas, de que tanto carecemos) pode indicar algumas das causas do fenômeno.

A saber:

• Crescimento do número de startups no País ao longo dos últimos dez anos. Segundo dados de pesquisa do Instituto Locomotiva e da Pnad-IBGE, 7,5 milhões de brasileiros ascenderam socialmente na última década pela via do empreendedorismo.
• O Brasil, especialmente depois da crise de 2008, passou a suscitar maior interesse no contexto da economia mundial.
• Investidores do mercado de capitais, tanto nacionais como estrangeiros, começaram a perceber nesses novos empreendimentos carência de recursos financeiros para expansão.
• Essa demanda por recursos, consequentemente, elevou o número de associações, incorporações e sociedades entre capital e trabalho.

A partir de um desses fatores isoladamente, ou até do conjunto deles, fundamentou-se um processo de euforia e otimismo na busca e atração de investidores — desejosos de alternativas mais rentáveis — pelos empreendedores bem-sucedidos. Os primeiros contatos entre ambas as partes se assemelhavam a uma verdadeira lua de mel. A sociedade entre o criador de um negócio, com o típico perfil de “dono”, e o detentor de um capital, em busca de rendimentos de curto prazo, parecia perfeita e complementar.

Poucos foram os que investiram algum tempo para discutir e avaliar os prós e os riscos de uma sociedade com essas características. A grande maioria restringiu as análises aos aspectos financeiro, de mercado e de perspectivas de crescimento.

Com minha longa experiência como consultor, posso afirmar que entre os modelos societários com maior risco está justamente a aliança entre trabalho e capital. Os dois lados têm histórias, origens e expectativas muito distintas. Nossos estudos e pesquisas sobre empresas unifamiliares e multifamiliares no Brasil indicam que 70% dos empreendimentos a elas relacionados fracassam por conflitos e divergências internas das próprias famílias ou societárias não tratadas de forma preventiva.

Portanto, a provocação que podemos fazer para concluir este artigo é o fato de que todo aquele que for constituir uma sociedade deve investir uma boa dose de tempo para conhecimento mútuo e avaliação de origens, aspirações e expectativas futuras. É necessário, ainda, que procure formalizar, além dos documentos legais e tributários, um protocolo com um conjunto de princípios, valores, direitos e obrigações relativos a ambas as partes.

E não se pode esquecer, acima de tudo, do estabelecimento de uma forma para separação — sem brigas. Afinal, disputas destroem patrimônios e relações.


*Renato Bernhoeft ([email protected]) é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria


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