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O pulo da onça
Após um ano difícil, Klabin se prepara para resultados melhores com a conclusão de nova fábrica
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

Como o felino que a batiza, a unidade Puma da Klabin é imponente. Com capacidade anual para a produção de 1,1 milhão de toneladas de celulose de fibra curta (oriunda de eucalipto) e 400 mil toneladas de celulose de fibra longa (pínus), a fábrica inaugurada em março do ano passado no município de Ortigueira, no Paraná, representa o maior investimento da história da companhia. Orçada em 8,5 bilhões de reais, a unidade vem recebendo aportes financeiros desde 2013 e os últimos desembolsos — no valor de cerca de 50 milhões de reais — devem ser feitos ainda neste ano. Concluído o investimento e com a fábrica em plena operação, a Klabin, que em 2016 viu suas ações caírem 22,28% na bolsa, tem a chance de virar a página e começar a escrever uma história que agrade mais os acionistas. A conjuntura está a seu favor, pelo menos no curto prazo: diante da crise política, é natural os investidores diminuírem sua exposição a papéis ligados ao mercado interno e preferirem ações de empresas exportadoras e ligadas a commodities — caso da Klabin.

No ano passado, os resultados da companhia — maior produtora e exportadora de papéis do Brasil e líder na produção de cartões para embalagens — foram prejudicados principalmente por fatores externos. Enquanto os preços mais baixos da celulose no mercado internacional e a valorização do real em relação ao dólar afetaram as receitas com exportação, a recessão econômica fez com que recuassem as vendas de papelão ondulado, material usado como embalagem pela indústria nacional. Assim como suas concorrentes Fibria e Suzano, a Klabin viu seu resultado minguar. No quarto trimestre de 2016, a empresa alcançou lucro líquido de 108,9 milhões de reais, montante 79% inferior ao registrado em igual período do ano anterior.

Entre janeiro e março deste ano, a última linha do balanço mais uma vez desapontou — o lucro líquido caiu 44% na comparação com os três primeiros meses de 2016, sobretudo por causa do impacto do câmbio no resultado financeiro líquido. Em contrapartida, outros números foram bastante positivos. A receita total de vendas (incluindo madeira) no primeiro trimestre, por exemplo, subiu 28% (para 1,86 bilhão de reais), impulsionada pelo faturamento de 451 milhões de reais da unidade Puma. A fábrica também contribuiu para que a companhia tivesse no período um Ebitda ajustado de 539 milhões de reais, o que representa uma alta de 5% sobre o indicador do intervalo de janeiro a março de 2016. Detalhe: há 23 trimestres consecutivos o Ebitda aumenta.

A unidade de Ortigueira também teve o mérito de inserir a Klabin num promissor nicho de negócio: o de fabricação da celulose fluff. Utilizado em fraldas e absorventes, esse material, antes produzido apenas pela Suzano, tem uma demanda no mercado interno de cerca de 400 mil toneladas anuais, conforme estimativa da consultoria Pöyry. Entre os clientes da Klabin no segmento estão renomadas empresas como Kimberly-Clark, Hypermarcas, CMPC (Melhoramentos) e Johnson&Johnson. O objetivo da empresa é atingir a liderança desse mercado no Brasil ainda em 2017.

A unidade de Ortigueira insere a Klabin num promissor nicho de negócio: o de celulose fluff

Ancorada nesse cenário, em abril a Coinvalores elegeu a Klabin como a “top pick” do setor de papel e celulose, em detrimento de Fibria e Suzano, empresas mais dependentes do mercado externo. Na ocasião, a corretora esperava que, nos 12 meses seguintes, os papéis da companhia atingissem 26 reais no pregão (em 23 de maio, elas estavam cotadas a 16,95 reais). “A unidade Puma progrediu bem em seu ramp up [fase inicial da produção industrial], o que resultou em maior volume de produção e, consequentemente, na maior diluição de custo fixo de toda a operação”, observa Felipe Martins Silveira, analista da Coinvalores.

Parte dessa produção, cabe destacar, já tem destino certo. Em 2015, a Klabin firmou um acordo de seis anos com a Fibria, no qual se comprometeu a entregar, nos quatro primeiros anos, um volume mínimo 900 mil toneladas de celulose de fibra curta para a concorrente, que devem ser vendidas exclusivamente em países fora da América do Sul. A demanda garantida é mais um ponto positivo da unidade Puma, que começou a operar plenamente em abril — até janeiro passado, sua capacidade operacional girava em torno de 93%. Contando com esse aumento, a Klabin espera reduzir ainda mais os custos de fabricação de celulose e turbinar sua geração de caixa operacional. “Nossa expectativa é de um crescimento continuado de Ebitda por até cinco trimestres”, projeta Eduardo de Toledo, diretor de finanças e relações com investidores da Klabin.

Se o prognóstico se concretizar, o endividamento líquido da companhia, elevado nos últimos anos pelos investimentos na nova unidade, deve engatar trajetória de queda. No fim de março, a dívida líquida da empresa era de 11,4 bilhões de reais, o equivalente a 4,9 vezes o Ebitda anualizado. Três meses antes, esses números eram 12 bilhões de reais e 5,2 vezes.

Flexibilidade

A confiança de Toledo na entrega de resultados operacionais cada vez melhores é decorrente de alguns fatores. Entre eles o aumento na demanda por celulose no mercado externo, especialmente na China, país que amplia seu consumo para fabricação de produtos de higiene pessoal. O preço da tonelada de celulose de fibra curta no mercado chinês no fim de março era 16% maior que o registrado em dezembro (603 dólares contra 518 dólares).

O setor de embalagens igualmente oferece boas perspectivas. A performance do segmento acompanha os mercados de alimentos e de construção civil, que vêm se beneficiando da melhora nos indicadores econômicos no País. No primeiro trimestre, a venda de produtos convertidos (papelão ondulado e sacos de papel) gerou uma receita líquida para a Klabin de 626 milhões de reais, alta de 13% em relação a igual período do ano passado. O crescimento, superior ao apresentado pelo mercado (de 5%, conforme dados da Associação Brasileira do Papelão Ondulado), foi impulsionado pela recente aquisição de duas fábricas de papelão ondulado: a paranaense Embalplan e a amazonense Hevi Embalagens.

E não é só a variedade de negócios que ajuda a companhia. Também conta pontos sua forte atuação tanto no mercado interno quanto no externo. Diante da valorização do real frente ao dólar, a Klabin tem aumentado suas vendas no Brasil — elas foram responsáveis no primeiro trimestre por 60% do total da receita líquida da companhia, crescimento de 17% em comparação ao período de janeiro a março de 2016.

Um novo capítulo

Ao mesmo tempo em que trabalha para obter melhores resultados, a Klabin conta com o apoio da consultoria Falconi para reduzir custos e despesas administrativas na pretensão de atingir uma economia de “três dígitos” ao longo do ano que vem. A sensação de que a casa vem sendo arrumada sem dúvida contribuiu para que os investidores se mantivessem otimistas em relação à companhia mesmo com a notícia da saída de Fabio Schvartsman do comando. Presidente da Klabin havia seis anos, ele deixou a empresa neste mês de maio para ocupar a presidência da Vale.

No seu lugar assumiu Cristiano Teixeira, que ingressara como diretor de supply chain (cadeia de suprimentos) em 2011, por indicação do próprio Schvartsman. Sua principal missão é conduzir os planos de expansão da empresa para os próximos períodos, suspensos desde a segunda metade de 2014 por causa do foco no projeto Puma. Entre os futuros investimentos estão a construção de uma caldeira de biomassa em Angatuba, no interior de São Paulo, e uma nova linha de produção de sacos em Lages, Santa Catarina (a existente está 100% ocupada).

Embora a conclusão da fábrica de Ortigueira seja positiva para a Klabin, as principais corretoras do País mantêm uma avaliação neutra em relação às ações da empresa. Em abril, o prognóstico do Itaú era de que a cotação dos papéis atingiria 20 reais nos 12 meses seguintes. O Bradesco estava ainda mais conservador, apostando em 16 reais. A principal preocupação dos analistas é a perspectiva de excesso de capacidade produtiva do setor. “Quando o projeto OKI [da empresa Asian Pulp and Paper, na Indonésia] for iniciado, poderá haver um aumento considerável da oferta de celulose, o que forçaria uma queda bruta na cotação internacional da commodity”, avalia Lucas Carvalho de Lima, analista do Toro Radar.

A expectativa era que o OKI iniciasse suas atividades, no mais tardar, no começo de 2017, produzindo 2 milhões de toneladas de celulose por ano. Mas incêndios na Indonésia que afetaram cerca de 90 mil hectares de florestas da APP nos últimos dois anos, retardaram a estreia do projeto. Em abril, a empresa afirmou que a fábrica entraria em funcionamento em 2018.

No Brasil, o aumento na oferta também parece garantido. A Fibria planeja colocar a unidade Horizonte 2 para funcionar em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, ainda no começo de setembro. O projeto tem potencial para aumentar a produção da empresa em 300 mil toneladas de celulose só nos primeiros meses. Embora expressivo, o número não chega perto da capacidade produtiva da Puma. Numa selva cada vez mais competitiva, a fábrica de Ortigueira certamente é o principal trunfo da Klabin para se manter no páreo.


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