Empresas patinam na comunicação de fatores ESG
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

Pode não ser pelos motivos mais nobres, mas já faz algum tempo que a análise dos aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) de uma companhia deixou de ser conversa só de especialistas em sustentabilidade. Os investidores também passaram a olhar com atenção esses fatores, principalmente após 2010, quando a explosão de uma plataforma da British Petroleum (BP) provocou um gigantesco vazamento de óleo no Golfo do México, o pior da história. Mas esse, infelizmente, não foi o único desastre ambiental protagonizado por uma companhia aberta. No Brasil, o rompimento da barragem da mineradora Samarco, controlada por Vale e BHP Billiton, cobriu de lama o distrito de Mariana, em Minas Gerais. A tragédia, ocorrida em novembro 2015, provocou danos irreparáveis à flora e à fauna mineira e capixaba, além de causar mortes e deixar centenas de pessoas desabrigadas. “O debate sobre o retorno do investimento sustentável sempre existiu, mas agora ficou mais claro que não olhar para o ESG pode gerar perdas muito grandes”, afirma Tereza Kaneta, diretora da consultoria de comunicação corporativa Brunswick.

A visão mais aguçada do investidor em relação a essas questões já se mostrou capaz de identificar tragédias anunciadas. A recente fraude na Volkswagen — a montadora alemã falsificou resultados de testes de emissão de poluentes — reforçou a opinião de quem tinha retirado os investimentos da empresa antes de o escândalo emergir. “Depois que o esquema foi revelado, muitos investidores contaram terem saído da companhia por achar que a governança deixava a desejar. O fato de o board da Volkswagen não ser composto apenas de membros independentes é por si só uma red flag que gera desconto no valuation da empresa”, afirma Tereza.

De acordo com analistas de fundos dedicados à avaliação de empresas socialmente responsáveis, dois fatores aumentam a complexidade desse trabalho: a dificuldade das companhias em transmitir o retorno desses investimentos e a falta de transparência em torno de questões críticas. Aos poucos, afirmam, o primeiro problema vem sendo resolvido, à medida que as empresas têm trabalhado com mais afinco na criação de indicadores financeiros capazes de medir a rentabilidade de iniciativas de sustentabilidade. Por outro lado, as companhias ainda se mostram pouco dispostas a falar sobre os desafios de se colocar em prática essas ações. “Vemos relatórios com muita informação, mas que só têm dados positivos. Falta falar sobre os temas mais críticos. Às vezes deixamos de comprar uma ação por não termos acesso a essa informação”, diz Luzia Hirata, analista de ESG do Santander Asset Management.

É com base nesse tipo de informação que as assets criam ratings para as empresas — e muitas companhias deixam de fazer parte da carteira de investimentos por não alcançarem uma nota mínima. “Como não existe uma massa de investidores perguntando sobre sustentabilidade, as empresas acabam não tocando no assunto. É preciso que elas se esforcem mais na transmissão desses dados, pois isso acaba sendo uma vantagem competitiva”, avalia Raquel Costa, analista do HSBC Asset Management. Para as companhias dispostas a fazer essa lição de casa, o potencial de atração de investimentos é gigantesco. Hoje, os 150 signatários do PRI (Principles for Responsible Investment) possuem, juntos, US$ 60 trilhões sob gestão.

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Diretora do PRI na América Latina, Tatiana Assali observa que o impacto da perda de grau do investimento do Brasil para as empresas poderia ter sido atenuado por projetos sólidos de sustentabilidade. “Depois desse episódio, nós perdemos o mandato de grandes fundos. Mas o investimento sustentável muitas vezes tira o investment grade da conta do investidor, que avalia o projeto em si. Por isso, é preciso empacotar melhor o que estamos vendendo”, enfatiza.

Única seguradora a fazer parte do ISE, índice de sustentabilidade da BM&FBovespa, a SulAmérica reformulou seu site de relações com investidores (RI) para atender melhor os investidores socialmente responsáveis. “Demos à sustentabilidade a mesma importância do dado financeiro. A integração dessas áreas é uma tendência, e todos deveriam se preparar”, diz Guilherme Nahuz, superintende de RI da SulAmérica. Mas o executivo ainda tem dúvidas sobre como os dados são integrados do lado do investidor. “O que prevalece na tomada de decisão ainda é o retorno do investimento, por isso muitas vezes acabamos voltando ao contexto macroeconômico”, acrescenta Sonia Favaretto, diretora de imprensa e sustentabilidade da BM&FBovespa.

O fato é que, com a economia brasileira em crise e grandes empresas de capital aberto assombradas pelo fantasma da corrupção, ainda há um longo caminho para se estabelecer uma comunicação ideal do tema sustentabilidade. “Traduzir a visão de business sustentável na prática não é uma corrida de cem metros. É uma longa jornada”, conclui Tereza, da Brunswick.

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