O que eles têm?
América Latina ainda é coadjuvante quando comparada aos asiáticos na captação de recursos para investimentos de private equity

, O que eles têm?, Capital Aberto

Pelos corredores e salas da ala de eventos do hotel Intercontinental de Londres, próximo ao palácio Buckingham, onde foi realizado o quarto fórum anual da Associação de Private Equity de Mercados Emergentes (Empea, na sigla em inglês), ouviam-se sotaques de tipos diversos. Árabes, chineses, sul-africanos, indianos e alguns poucos brasileiros podiam ser identificados em meio ao público formado por investidores e gestores de fundos de private equity. Os comandantes da cerimônia eram, claro, os Estados Unidos e a Europa, de onde jorram os bilhões de dólares destinados às economias conhecidas como emergentes, por estarem saindo do mundo subdesenvolvido com condições de se transformarem em potências no futuro. Se a preferência política era pelos democratas — o evento ocorreu entre os dias 4 e 5 de novembro, coincidindo com a eleição presidencial nos Estados Unidos —, como revelavam os broches com a feição de Barack Obama pregados em paletós, o gosto financeiro era pelo Oriente. Cerca de 75% dos recursos dirigidos a países emergentes vão para a Ásia.

Até em setores como energia limpa, nós, brasileiros, ficamos para trás. Quais são os lugares mais excitantes nesse setor? China e Índia, na opinião do público da conferência. O Brasil aparece em terceiro lugar. “Nos vendemos muito mal”, lamenta-se Álvaro Gonçalves, sócio-diretor do grupo de private equity Stratus, um dos poucos brasileiros presentes no encontro. Essa, talvez, seja a principal explicação para o País estar atualmente fora de foco na pontaria dos investidores internacionais.

Quando falavam dos problemas trazidos pela crise à indústria de private equity, os palestrantes pareciam se esquecer da América Latina. Mencionavam Ásia, Leste Europeu e até África Subsaariana. Nos workshops regionais, no período da tarde do primeiro dia, a seção dedicada à América Latina passou despercebida pelos mais de 300 investidores registrados para o evento. A sala ficou praticamente vazia. Afinal, o que os outros emergentes têm para chamar mais atenção que o Brasil? População numerosa, jovem e em ascendência social — no caso de China e Índia, mais especificamente — enche os olhos de investidores estrangeiros. Mas essa também é uma característica brasileira.

Para Alexandre Pierantoni, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC), que divulgou um relatório, em outubro, sobre o mercado global de private equity, há outras razões para o estágio mais maduro de nossos concorrentes. “São países que passaram por importantes processos de consolidação: a Rússia, na área de petróleo; a Índia, na de tecnologia da informação; e a China, em indústria pesada”, salienta.

A seguir, um breve retrato de cada um desses mercados, baseado no relatório divulgado em outubro pela PwC.

RÚSSIA — Com uma economia que cresceu acima de 7% nos últimos cinco anos, a Rússia se enquadra na clássica fórmula “PIB condições macroeconômicas em evolução” de países emergentes. As reservas internacionais do país passaram de US$ 55 bilhões, em 2003, para US$ 581 bilhões, em agosto de 2008. Nesse contexto, o mercado de private equity tem muito espaço para evoluir. As 28 transações fechadas nos primeiros oito meses do ano alcançaram valores médios de US$ 60 milhões, segundo a PwC, a partir de dados extraídos da Capital IQ, serviço de pesquisas financeiras da Standard & Poor’s.

Os investidores locais estão puxando esse movimento. Hoje, detêm por volta de US$ 10 bilhões sob administração profissional — que exclui a fortuna de poderosas famílias de empresários. Porém, os investidores estrangeiros agarraram muitos dos negócios mais parrudos. O maior deles foi em abril: uma aquisição por um grupo norte-americano de 50% da SIA International, empresa líder da distribuição de produtos farmacêuticos. O setor mais fervilhante tem sido o de bens de consumo e varejo. Mas, segundo a PwC, a atividade de compras também tem se mantido intensa nos ramos de infra-estrutura, indústria, construção, imobiliário e serviços financeiros.

ÍNDIA — Os ataques terroristas em Mumbai, em novembro, suscitaram comparações com o 11 de setembro de Nova York. Dentre os 185 mortos no atentado na capital financeira da Índia, havia norte-americanos e britânicos. O episódio mexeu também com os nervos de investidores de todo o planeta, muitos dos quais vêem a Índia como destino mais interessante do que a própria China. Apesar das conhecidas tensões belicosas com o vizinho Paquistão, do ponto de vista econômico a Índia tem atributos para lá de sedutores. Nos últimos quatro anos, seu Produto Interno Bruto (PIB) se expandiu a uma taxa de 8% a 9%. No que depender das metas do governo, a Índia manterá esse ritmo até pelo menos 2012, apesar de a projeção para 2009 ter sido reduzida para 7,8%, segundo o relatório da PwC. Suas reservas em moeda estrangeira atingiram US$ 316,2 bilhões.

O atual tumulto financeiro promete impactar adversamente o fl uxo de private equity para a Índia, na avaliação da PwC. Embora continue ativo, esse mercado deverá correr numa velocidade mais lenta no curto e no médio prazo. Só em 2007, os investimentos de private equity cresceram incríveis 136%, atingindo a cifra de US$ 17,5 bilhões. É grande a fama da Índia como provedora de produtos e serviços de tecnologia da informação e outsourcing. Foram justamente essas áreas que concentraram os aportes entre 2005 e 2006. O tamanho das operações se avolumou de uma média de US$ 16 milhões, em 2005, para US$ 36 milhões, em 2007. O investidor estrangeiro não encontra dificuldades para aplicar lá. A maioria dos fundos faz o chamado “investimento estrangeiro direto”, que não exige nenhum tipo de aprovação. Alguns setores, porém, como jogos de azar e mídia, sofrem restrições para receber o capital externo. Aportes nessas modalidades de negócios devem ser autorizados previamente pelo conselho de promoção de investimento estrangeiro.

O atual tumulto financeiro promete impactar adversamente o fl uxo de private equity para a Índia, na avaliação da PwC. Embora continue ativo, esse mercado deverá correr numa velocidade mais lenta no curto e no médio prazo. Só em 2007, os investimentos de private equity cresceram incríveis 136%, atingindo a cifra de US$ 17,5 bilhões. É grande a fama da Índia como provedora de produtos e serviços de tecnologia da informação e outsourcing. Foram justamente essas áreas que concentraram os aportes entre 2005 e 2006. O tamanho das operações se avolumou de uma média de US$ 16 milhões, em 2005, para US$ 36 milhões, em 2007. O investidor estrangeiro não encontra dificuldades para aplicar lá. A maioria dos fundos faz o chamado “investimento estrangeiro direto”, que não exige nenhum tipo de aprovação. Alguns setores, porém, como jogos de azar e mídia, sofrem restrições para receber o capital externo. Aportes nessas modalidades de negócios devem ser autorizados previamente pelo conselho de promoção de investimento estrangeiro.

Nos workshops regionais, a seção dedicada à América Latina passou despercebida pelos mais de 300 investidores. A sala ficou praticamente vazia

CHINA — As ginastas com idades sob suspeita, a menina cantora que dublava e os impressionantes fogos de artifício criados por computador foram meros detalhes no espetáculo dos Jogos Olímpicos de Pequim, que extasiou bilhões de pessoas. As “pegadinhas” chinesas são apenas mais uma prova das artimanhas do governo ditatorial, que quer vender seu país para o mundo. Para fisgar o investidor estrangeiro, no entanto, o Partido Comunista nem precisaria caprichar tanto nos truques. Os fortes apelos da economia local falam por si. Não há consenso sobre a real desaceleração do ritmo de expansão do PIB chinês em 2009, mas se ele cair até dois pontos percentuais, ante o projetado de 9,4% para 2008 pelo Banco Mundial, ainda assim será um crescimento vigoroso.

“A companhia pode não ter governança, mas se estiver gerando caixa, vamos falar com ela”, afirma Steve Wu, sócio-diretor da Aureos Capital, gestora de fundos private equity com mais de US$ 1 bilhão e pelo menos US$ 50 milhões dirigidos à China. Segundo a pesquisa da PwC, os investimentos de private equity aumentaram somente 3% em 2007, em comparação com o ano anterior, atingindo a marca de US$ 10,62 bilhões. Esse desempenho colocou a China em sétimo lugar na Ásia nesse quesito. O total de recursos levantados pelos fundos, por sua vez, bateu a casa dos US$ 11 bilhões. Parte da explicação para esse resultado modesto está no aquecido mercado de ações de 2006 e 2007, que estimulou as ofertas iniciais (IPOs) e as aplicações em bolsa. De um ano para cá, o ar começou a ficar rarefeito. Com a retração da bolsa, investidores de private equity estão olhando cada vez mais para operações do tipo “going private” — de aquisição e posterior fechamento de capital de empresas listadas.

Em 2007, novas regras foram introduzidas para estimular o mercado de private equity. Algumas companhias de investimento e seguradoras domésticas receberam autorização para investir dessa maneira. No entanto, para crescer com mais consistência, a indústria chinesa de capital de risco tem de superar desafios relevantes. O arcabouço regulatório do país dificulta os investimentos estrangeiros. Além disso, a qualidade das informações disponíveis sobre as empresas é precária, prejudicando a realização de uma boa diligência pré-investimento.


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