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Um blog para contar
Renato Chaves

, Um blog para contar, Capital Aberto

 

Correr no deserto será novidade para Renato Chaves. Mas preparo para o desafio ele tem. Antes de encarar os 23 quilômetros do Mountain do Atacama, no próximo dia 29 de janeiro, o corredor–blogueiro–executivo participou de outras nove meias maratonas e subiu cinco montanhas. No currículo, conta também a determinação de quem, há 15 anos, pregava no deserto da governança corporativa: numa época em que o termo ainda era pouco difundido, ele comparecia a assembleias disposto a tudo para fazer valer os direitos dos acionistas minoritários. “Ia a reuniões acompanhado de advogado e muitas vezes saía direto para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários)”, conta Chaves.

A militância na governança começou quando ele era analista do banco de investimento do Banco do Brasil e acompanhava as suas participações acionárias minoritárias como suplente de conselheiro de administração das companhias. Uma atuação que teve seu auge como diretor de participações da Previ, entre 2003 e 2008. E que hoje está dividida entre o seu Blog da Governança e o trabalho de diretor estatutário da Telemar Participações, holding dona do grupo Oi, como indicado do conjunto de sócios dos fundos de pensão (Previ, Petros e Funcef).

Sobre o trabalho na Telemar ele prefere não dar detalhes. Apenas repete as palavras que estão na ponta da língua desde que era questionado na Previ sobre práticas de governança em companhias investidas pelo fundo: “A Previ sempre vai influenciar para que as melhores práticas sejam implementadas. Mas não é dona; existem outros sócios. Se não tem boa governança na empresa, pode apostar que ela brigou e continua brigando para melhorar”.

E brigar é com ele mesmo. Não de dar murro na mesa, mas de “se posicionar” e “defender bandeiras”, como disse várias vezes durante a entrevista. Se a discrição é mantida em relação aos prováveis embates na Oi, no blog as broncas são para lá de explícitas: com um estilo mordaz, ele ataca a “atitude aloprada” de “administradores espertalhões”, critica as “apurações capengas” e os “acordinhos” para encerramento de processos, questiona a “independência dos conselheiros independentes” e os “investidores alligators”, que engolem qualquer relação entre risco e retorno.

Nem sempre identificados com nome e sobrenome, os alvos dos petardos são facilmente localizáveis por quem acompanha o mercado de capitais. Os leitores ainda se divertem com a sua verve de “cronista carioca”, com direito a observações sobre a cidade, citações de canções da MBP e menções ao “Glorioso”, como Chaves chama o time do Botafogo. A dedicação — ele posta religiosamente um texto por semana há 15 meses — é retribuída pelos 300 acessos a cada publicação e pela repercussão do blog no mercado, ainda que fora da caixa de comentários.

“O pessoal prefere fazer observações particulares, na minha caixa postal”, explica. “Já recebi críticas duras, mas nunca baixarias. Até porque falo conceitualmente sobre uma infração, por exemplo, mas não cito pessoas. E nunca comento operações em curso.” A sua motivação, afirma, é apenas poder se expressar com liberdade, sem as limitações de espaço dos veículos para os quais contribui eventualmente com artigos. Chaves recusou o convite para transferir sua cria ao portal da revista Veja (“eu seria o 58º blogueiro do site e ainda teria de abrir mão do endereço blogdagovernanca.com”) e está feliz com a vida de blogueiro independente. “Escrevo no fim de semana e meu custo é de US$ 10 anuais para manter o blog.”

Sim, sua página na internet é apenas militância e hobby, e não trabalho, já que ele despacha diariamente das 9 às 18 horas no escritório da Telemar na Praia de Botafogo, no Rio, participando de reuniões de conselhos e comitês do grupo Oi. Atualmente licenciado da Previ, Chaves é funcionário de carreira do Banco do Brasil, onde pretende se aposentar (hoje está com 46 anos). Começou a trabalhar na instituição aos 14 anos, como office–boy.

Para quem imagina que ele galgou posições graças ao seu posicionamento político, ele surpreende revelando que suas conquistas estiveram mais relacionadas à preocupação com formação. “Sempre tive uma consciência grande, fui delegado sindical e era filiado ao PT. Mas me desiludi na época em que o partido fez uma intervenção para o Rio não ter candidato próprio a governo do estado (em 1998) e não tenho vínculo partidário.” A carreira só prosperou porque, ao contrário de outros delegados sindicais das agências do banco, Chaves decidiu continuar estudando: depois da faculdade de contabilidade, cursada à noite para conciliar com o expediente, ele resolveu bancar uma pós–graduação com foco em análise de empresas na Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio. Para pagar o curso, fazia fotos nos fins de semana de corridas de kart e de Fórmula 1. “Trabalhava como free–lancer e tinha até registro de repórter fotográfico”, conta.

A especialização lhe possibilitou dar aulas para funcionários do próprio banco, que decidiu apostar em sua formação: depois de outra pós–graduação em finanças na PUC, ele ingressou na área de mercado de capitais como analista pleno, por causa do currículo. Conquistado definitivamente pelo “mundo das empresas”, Chaves ainda faria um mestrado em ciências contábeis na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Já ocupava o cargo de gerente executivo quando foi indicado pelo banco para a diretoria da Previ. “Eu era qualificado, a única novidade para mim foi a parte imobiliária”, diz ele. Sem contar, claro, o porte da carteira de participações do fundo, composta de intermináveis R$ 90 bilhões.

A experiência de acompanhar de perto as participações relevantes da Previ em mais de 80 empresas fez de Chaves um manancial de histórias relacionadas às práticas de governança, especialmente aquelas não recomendáveis. Nesse sentido, o blog é apenas o começo do plano de compartilhar o que aprendeu: “Adoro dar aulas e já tenho ministrado alguns cursos de pós–graduação. É o meu projeto para o futuro”. Os alunos, quem sabe, poderão ter acesso a todos os casos saborosos de contendas societárias — incluindo aqueles que não foram para o blog.

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