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Sem tropeço
Tiago Mitraud, diretor-executivo da Fundação Estudar: “Minha geração tem mesmo que mudar o Brasil”
Tiago Mitraud (Foto: Régis Filho)

Tiago Mitraud (Foto: Régis Filho)

Tiago Mitraud não tem o hábito de olhar para o topo da escadaria. Percebe o degrau imediatamente à frente, e apenas o galga. Foi assim quando ingressou no grêmio do colégio, e depois na empresa júnior da faculdade — queria apenas ser útil em seu tempo livre. Até que, em determinado momento, os cargos de presidente, do grêmio e da Brasil Júnior (Confederação Brasileira de Empresas Juniores), se transformaram no degrau seguinte. Por isso, no fim do curso de administração, quando se candidatou a um emprego na Fundação Estudar, não estranhou que o processo de seleção começasse com uma primeira entrevista (“com a Thais”), depois outra (“com o Rodrigo”), para enfim chegar a uma última conversa, com “um tal de Jorge Paulo”.

“Quase dei vexame”, conta o atual diretor-executivo da Estudar, confessando que até 2011 desconhecia o mito em torno do empresário mais rico do País, Jorge Paulo Lemann, fundador da organização ao lado de Marcel Telles e Beto Sicupira. O trio comanda o fundo de investimento 3G Capital e é um dos controladores da gigante AB InBev.

Só que a reunião com Lemann foi marcada para um mês e meio depois da segunda entrevista, e Ticão — como é conhecido pelos amigos desde os tempos do grêmio do Colégio Santo Antônio, de Belo Horizonte — desta vez achou esquisito. Afinal, com a diretora Thaís Junqueira e o conselheiro Rodrigo Teles o processo havia sido bastante ágil. Foi, assim, juntando as peças: lembrou-se de já ter ouvido falar dos fundadores quando a Estudar tornou-se parceira da Brasil Júnior durante o seu mandato de presidente na entidade. E foi reler o “case Ambev”, que fazia parte de um livro editado pela Endeavor (única outra organização com a qual aceitara conversar sobre emprego, depois de ter ignorado o assédio de empresas de fora do terceiro setor). Mas foi graças a uma pesquisa no Google que encontrou duas amplas reportagens em revistas de negócios e teve a “noção” do que seu futuro entrevistador já tinha feito na vida. “Acabei lendo tudo sobre ele, antes da entrevista. E a conversa foi muito legal.”

Aos 30 anos, cinco deles na Estudar — sendo o último à frente da execução de um ambicioso projeto de ampliação do impacto da entidade entre jovens promissores, antes beneficiados apenas por poucas bolsas de estudos —, Mitraud logo trata de desconstruir a imagem que poderia se formar na cabeça da jornalista: ele não é mais um “geninho” garimpado pelo trio para, no futuro, servir às suas empresas. Para começar, nem acredita nesse tipo de genialidade. “Estudos modernos mostram que, mais do que capacidade intelectual, o que faz a diferença é ter garra, determinação, foco.” Além disso, ressalta que a Fundação hoje também identifica talentos para a gestão pública, a academia e o terceiro setor. “Quando a Estudar começou, nos anos 90, o tipo de jovem que os nossos fundadores buscavam eram os que queriam ter uma carreira em negócios, de onde eles próprios vieram. Mas isso mudou nos últimos dez anos, e os resultados já estão aparecendo, em outros tipos de liderança.”

Aparentemente, o próprio Mitraud é um exemplo desse novo jovem que descreve. “As empresas deles [do trio] já têm uma capacidade grande para atrair talentos. Sinto-me mais útil aqui. Não sei onde essa escada vai dar, mas meus próximos degraus são muito claros: fazer da Estudar uma máquina de eficiência, sustentável, que atue em todo o Brasil e atinja muito mais jovens.” E quando não mais houver degraus nessa escadaria? Ele responde que o terceiro setor ainda é o que mais o atrai, como na época em que procurava seletivamente o primeiro emprego, porque nele “há um propósito”. Porém, confessa uma predileção pela chamada “cultura GP”. “Apesar de aqui sermos uma organização sem fins lucrativos, temos sistema de metas, remuneração variável, consultoria do [Vicente] Falconi. Acho que surto se for trabalhar em um lugar onde me digam: ‘ah, não tem meta, vai tocando aí’…’”

Filho de funcionários públicos de carreira, Mitraud nasceu em Brasília e viveu cinco anos no Rio de Janeiro, até a família retornar à cidade de origem, Belo Horizonte. Depois de um intercâmbio de um ano na Bélgica, no final do ensino médio, a “necessidade de autonomia” o levou a prestar o vestibular para os estados onde estivessem os melhores cursos de administração, mas longe da proteção da família. “Tenho duas irmãs e sou o caçula. Brinco que eu jogava a roupa suja no chão e no dia seguinte ela aparecia magicamente no guarda-roupas, separada por cor.”

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR) logo se destacou. Começou a trabalhar na empresa júnior da faculdade ainda no primeiro semestre, e manteve as notas elevadas para se candidatar a intercâmbios no exterior. Depois de dois períodos fora do País, com bolsas para estudar na Bélgica e nos Estados Unidos, e de rodar o Brasil como presidente da Brasil Júnior (a entidade congrega cerca de 400 empresas e 15 mil universitários, em 18 estados), Mitraud graduou-se com o prêmio de melhor aluno de sua turma.

O idealismo, hoje visível em seu raciocínio, ele confessa ter surgido aos poucos, durante o exercício de liderança dos estudantes envolvidos com a Brasil Júnior. “Em 2010, alteramos a nossa missão, que era fazer as empresas juniores serem melhores, para ‘vamos formar os futuros empreendedores do País’. Por ser o porta-voz desse novo posicionamento, e de tanto repeti-lo, acabei me convencendo de que a minha geração tinha mesmo que mudar o Brasil.”

Três de seus amigos se candidataram a vereador nas últimas eleições municipais (um deles se elegeu pelo Partido Novo, em Porto Alegre). Já Mitraud afasta a hipótese de uma carreira política, mas não descarta a possibilidade de que, “quando tiver mais cabelos brancos”, possa ser fisgado pelo setor público. “Brinco com meus amigos que estou esperando eles se elegerem e me chamarem para fazer parte do time.” O atual lema da Fundação Estudar, não por acaso, é “criar oportunidades para gente boa agir grande e transformar o Brasil”. Bem que o País está precisando.

3X4

Rotina – Vai a pé para o escritório, no Brooklin, em São Paulo, às 9 horas, e passa o dia em conversas e reuniões com gestores da Fundação — eram três pessoas quando entrou, hoje são 53 — e empresas parceiras. “Ainda tenho um papel muito híbrido; cada dia é diferente.” Em dois dias na semana só sai do trabalho às 22 horas, pois é mentor de cursos ministrados à noite por voluntários. “É uma atividade que me conecta com a ‘ponta’, jovens que são o público da Estudar”.

Governança – Tem uma reunião quinzenal com o comitê executivo, e outra trimestral com o conselho curador. Com o conselho de administração se reúne pelo menos uma vez por ano — o último encontro, em agosto, foi um grande evento aberto para a imprensa, no qual os três fundadores fizeram exposições para comemorar os 25 anos da organização. “Eles têm muito carinho pela Fundação.”

Hobby – Mergulho com cilindro. “Estou perto de me tornar divemaster [considerado o primeiro nível profissional, a partir do qual se pode liderar grupos, escolhendo locais e prestando socorro a outros mergulhadores]. Mas mergulho por causa da beleza e da sensação, não pelo desafio.”

Férias – É sempre “obrigado” a tirar, pela Fundação. “Para mim não existe separação entre vida pessoal e profissional.” As últimas férias foram em Cozumel, ilha no México, onde mergulhou com a namorada, brasileira que trabalha numa consultoria internacional, mora no Panamá e vai se mudar para a Espanha.

Viagem marcante – Em 2009, quando terminou o intercâmbio nos Estados Unidos, resolveu aproveitar o restante do visto de permanência com um “mochilão”. Com pouco dinheiro, comprou por US$ 400 um passe de uma empresa de ônibus que lhe dava direito a viajar por um mês. De Nova York, foi sozinho para a Califórnia pelo norte e voltou pelo sul, tentando dormir nas viagens noturnas para economizar na hospedagem. “É dessa viagem que mais tenho histórias para contar.”

Rede social – Tem Facebook, mas usa pouco; está no LinkedIn, mas a assessora de imprensa está sempre pedindo para ele ser mais ativo. Criou um perfil no Instagram apenas para acompanhar as postagens da Estudar. “Consigo conviver, mas não sou muito tecnológico. Gerenciar essas coisas consome tempo e me dá preguiça.”


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