Planos de superação
Foto - Régis Filho

Fotos: Régis Filho

Os setores de construção civil e educação têm muito em comum. Ambos cresceram recentemente apoiados na concessão de crédito e na ascensão social do brasileiro. Enquanto o PIB se manteve em alta, as companhias desses segmentos brilharam na bolsa. Mas bastou a crise econômica recrudescer para os bons tempos se transformarem numa distante lembrança. Nos 24 meses encerrados em 8 de abril, o índice imobiliário (Imob) da BM&FBovespa, composto de nove incorporadoras, recuou 15,92% (leia reportagem Trincas expostas). As companhias de educação também exibiram desempenho ruim: das cinco listadas em bolsa, apenas a Kroton teve ações em alta no período — valorização de tímidos 3,34%. A maior retração foi dos papéis da Anima, de 50,51%. Nesta conversa, Daniel Castanho, CEO da Anima, e Marcos Zarzur, diretor presidente e comercial da Eztec, falam sobre os desafios enfrentados em seus setores e o que estão fazendo para superar as adversidades. Confira os melhores trechos a seguir.

Mudanças

Marcos Zarzur: “Com raras exceções, as incorporadoras estão fragilizadas. Em meio à forte crise que atinge o mercado imobiliário, a Eztec pisou no freio. Foram apenas três lançamentos no ano passado [o equivalente a 496 unidades], ante oito em 2014 [1.850 unidades]. Nosso objetivo com essa redução foi manter os estoques em níveis saudáveis. Dependemos da confiança do consumidor para alcançar bons resultados e, enquanto o Brasil não retomar o crescimento, será difícil o setor apresentar uma melhora. Acredito que, se houvesse mais incentivos no uso do FGTS, isso ajudaria a reverter em parte a perda do poder de compra dos consumidores, o que poderia alavancar as vendas imobiliárias.”

Daniel Castanho: “A conjuntura macroeconômica atual tem prejudicado uma série de setores da economia, e o de educação é um deles. O problema é que sofremos também com as mudanças bruscas do Fies [o governo alterou a regra de repasses de verbas do Fundo de Financiamento Estudantil e tornou mais rígidos os critérios de elegibilidade]. Sem esse crédito, os alunos não têm como amortecer o impacto do aumento do desemprego e da inflação. Na Anima, o número de novas matrículas de alunos que usam o Fies caiu 8,9% na comparação entre o primeiro e o segundo semestres de 2015. Para nós foi muito complicado lidar com essas mudanças. Acredito que o setor não estaria sofrendo tanto se elas não tivessem ocorrido.”

Caixa favorável

Marcos Zarzur: “Evitamos ao máximo aumentar o endividamento. Temos a sorte de estar capitalizados neste momento crítico. A dívida da Eztec é apenas de produção, e seu valor é inferior ao caixa. Isso garante solidez aos próximos passos que a companhia dará para recuperar seu ritmo de atividade em 2016.”

Daniel Castanho: “A posição de caixa da Anima oferece uma certa tranquilidade, para o caso de a situação econômica não melhorar. Ela também nos permite continuar olhando para oportunidades de crescimento inorgânico que potencialmente surjam neste cenário desafiador. No fim de 2015, compramos, por exemplo, a Sociesc [Sociedade Educacional de Santa Catarina]. Foi um bom negócio. A transação envolveu um valor baixo de investimento, já que embute o pagamento de aluguéis futuros.”

Reinvenções

Marcos Zarzur: “Já passamos por diversas crises e sabemos que cada uma requer uma reinvenção diferente. Para evitar cancelamentos de vendas, temos oferecido ao cliente a opção de migrar sua compra para uma unidade de valor mais baixo. Também decidimos reduzir temporariamente as margens para impulsionar as vendas, uma vez que o jogo virou.
De 2004 a 2014, os clientes compravam. A partir de 2015, os estoques cresceram. No momento, temos projetos aprovados e em aprovação para lançar o equivalente a cerca de R$ 600 milhões, mas o ritmo de vendas é que ditará a apresentação desses projetos.”

Daniel Castanho: “Ao longo dos últimos meses, colocamos em prática uma série de projetos internos para aumentar a eficiência e, com isso, proteger as margens da companhia. Racionalizamos as ofertas de curso por turno e campus, com o objetivo de concentrar a demanda em menos unidades. Também finalizamos o projeto de um novo currículo, que abrirá espaço para ganhos de produtividade na sala de aula. Essas mudanças envolvem gestão de custos dos professores, além da transformação dos espaços de aprendizagem, por exemplo, com ampliação das atividades de ensino a distância [EAD]. Com a aquisição da Sociesc, a Anima passou a contar com 33 polos de graduação em EAD, ante os 12 que possuía anteriormente.”

Crédito direto

Marcos Zarzur: “Com o aperto na concessão de crédito pelos bancos, temos oferecido financiamento direto de até 80% do valor do imóvel, com possibilidade de o comprador migrar para o empréstimo bancário quando as taxas de juros caírem. Hoje em dia, para que o cliente consiga comprar o imóvel, precisamos ser mais flexíveis.”

Daniel Castanho: “Estamos testando novos produtos de financiamento que sejam atrativos para os alunos e viáveis para a Anima e já vimos bons resultados nas ações implementadas até agora. A adesão dos alunos ao Pravaler, sistema de financiamento próprio da instituição, por exemplo, aumentou 16% no segundo semestre de 2015 em relação ao primeiro, chegando a 3,3 mil estudantes.”

Bolsa de valores

Marcos Zarzur: “Nos últimos oito anos, a remuneração dos acionistas da Eztec ficou na média de 24% ao ano. Só que neste momento a percepção do investidor sobre o setor prejudica o desempenho das nossas ações. As cotações passaram do auge de R$ 32 em 2013 para R$ 13 no fim de 2015, uma queda proporcionalmente bem maior que a do lucro da companhia. Conforme a Eztec mostrar bons resultados, isso deve se reverter. Apenas no quarto trimestre do ano passado, 80% do volume de vendas contratadas corresponderam a projetos concluídos, o que contribuirá significativamente para a geração de receita e de lucro em 2016.”

Daniel Castanho: “Atualmente, tem sido difícil convencer os investidores a pensar no longo prazo, pelo menos enquanto a tempestade causada pelo MEC não passar. Mas estou confiante na recuperação do preço das ações. Nosso setor tem enorme potencial de crescimento. No ensino superior, a demanda ainda é maior que a oferta, mesmo com a ampliação da quantidade de jovens que chegam à universidade. Com a possibilidade do financiamento estudantil, o aluno que queria um diploma passou a ver isso como um direito adquirido.”


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