O erro da América
Sai nos Estados Unidos Conspiracy of Fools, o "romance-reality" de Kurt Eichenwald sobre a ascensão e a queda da Enron

, O erro da América, Capital AbertoA The Economist define a Enron como referência de “tudo o que estava errado nos negócios da América”. O conglomerado operava nos mercados de gás, energia elétrica, banda larga e abastecimento de água e era reconhecido por muitos pelo espectro de suas operações, seu poderoso lobby na política, o bom relacionamento em Wall Street e a forte atuação como “market maker” nos mercados de gás e energia.

A companhia explodiu com as acusações de fraude contábil, e arrastou uma empresa de sólida reputação como a Arthur Andersen, recentemente absolvida pela Suprema Corte dos Estados Unidos pela acusação de “queima de arquivo” do caso Enron. O colapso mobilizou a Polícia Federal (FBI) e o Departamento de Justiça, além da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC). Acabou virando caso de polícia pelo sacrifício dos empregados que aplicavam seus fundos de pensão em ações da companhia.

Com base nas fontes dos depoimentos dos envolvidos junto ao FBI e a SEC, Kurt Eichenwald escreveu Conspiracy of Fools, uma versão romanceada da ascensão e queda da Enron no melhor estilo John Grisham, publicada em março deste ano. Seus personagens são reais e incluem desde os administradores da companhia até George W.Bush, Dick Cheney, Paul O´Neil, Harvey Pitt, Colin Powell e Alan Greenspan.

Eichenwald é um repórter do New York Times que, após a leitura de inúmeros documentos e entrevistas com a maioria dos participantes, escreveu 768 páginas de um romance baseado em fatos reais.

Eichenwald diz que o presidente do conselho, Kenneth Lay, e o presidente- executivo, Jeffrey Skilling, desconheciam os detalhes técnicos da “alquimia financeira” operada pelo diretor financeiro, Andrew Fastow. Ele tinha como foco a utilização de veículos financeiros, do tipo os fundos de investimentos JEDI e JEDI II, cujos cotistas eram a Enron e o Calpers – Califórnia Public Employment Retirement Systems. Estas sociedades veículos compravam os ativos e financiavam os projetos da Enron para “descarregar” o risco do balanço contábil da companhia e, desta forma, liberar recursos para os administradores e intermediários financeiros. Sociedades controladas por executivos da Enron, como Chewco, também eram tratadas como “fora dos livros” e utilizadas para as transações entre os cotistas dos fundos JEDI e JEDI II.

Andrew Fastow, segundo Eichenwald, desconhecia os limites de risco das suas operações. E Skillling desconhecia as práticas criminosas. Seu afastamento, um ano antes do colapso, não estaria relacionado às fraudes contábeis, mas sim ao seu comportamento instável, segundo o autor. Lay também não sabia o que se passava, mas depositava confiança em Fastow.

Eichenwald aponta os heróis do livro: Carl Bass, sócio responsável pela aplicação dos padrões contábeis da Arthur Andersen, que sempre questionou a contabilidade criativa da Enron e foi afastado pela alta direção da Andersen; Vince Kasminsky, vice-presidente da área de risco da Enron, que suspeitou desde o início da alquimia, e Jordan Mintz, advogado da área jurídica da companhia que questionou a legalidade destas operações.

Conspiracy of Fools A True Story | Kurt Eichenwald | 768 páginas Broadway

Dois meses antes do colapso, foi tentada uma “fusão-ressurreição” com a Dinegy Corporation de Houston, mas a realidade dos números, e o alto endividamento da empresa pós-fusão, assustou os acionistas da Dinegy e a operação micou.

O contágio do colapso da Enron atingiu em cheio a Arthur Andersen, que, ingenuamente, através de seu presidente, Joe Bernardino, apresentou- se como voluntária para depor e, alguns dias depois, através de comunicado à imprensa, anunciou que auditores da sua subsidiária em Houston haviam destruído documentos da Enron.

A primeira reação da Justiça foi processar criminalmente a Andersen, e uma tremenda fuga da base de clientes esvaziou sua credibilidade, que acabou desfacelada pelo próximo escândalo, da WorldCom, também auditada pela Andersen. A certa altura, o autor lembra a resposta de Carl Bass quando decidiu rejeitar os resultados da Enron: “A companhia queria resultados contábeis separados dos resultados econômicos. Se o objetivo era reportar receitas, as operações tinham que produzir receitas. Simple as that”. Está aí um livro que, por suas lições, merecia uma tradução brasileira.


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