Desde 2011 o World Economic Forum classifica na sua publicação “The Global Risk Report” os riscos relacionados às mudanças do clima entre as principais ameaças globais aos negócios. A 12ª edição do trabalho, publicada em janeiro deste ano e elaborada com base na opinião de quase 750 participantes (executivos de empresas, especialistas e representantes de governos, da academia, de ONGs e de organizações internacionais), corrobora essa tendência: os eventos climáticos extremos ficaram no topo da lista dos maiores riscos para o meio empresarial. Esse cenário sugere a necessidade do desenvolvimento de soluções compartilhadas, de forma que se reconheça o papel dos diversos setores empresariais na gestão mais responsável e reativa ao risco global.
Diante de uma ameaça real para a economia, as mudanças climáticas impulsionam as empresas para a elaboração de metas science based targets (SBTs) e ferramentas analíticas (climate analytics), com o objetivo de aprimorar a avaliação de vulnerabilidade e de riscos associados à mudança do clima. Nesse contexto, as bases científicas — mais robustas e atualizadas — passam a compor os fundamentos e as diretrizes para avaliações periódicas, não somente a respeito das mudanças climáticas, mas também sobre seus impactos, riscos e formas de mitigação.
Expostas aos riscos das mudanças do clima e de sua potencial materialização — seja com perda do valor econômico de ativos, danos a propriedades por eventos extremos, multas decorrentes de não atendimento de exigências legais e regulamentações de mercado, dentre outros — mais empresas buscam meios de adaptação considerando o risco climático que ameaça a perenidade e sustentabilidade de seus negócios.
Esses riscos passaram a ter maior importância e a atrair a atenção do mercado global após o lançamento, em junho deste ano, do relatório do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), com recomendações sobre como as empresas podem relatar os riscos e oportunidades relacionadas às questões climáticas. Logo após o Acordo de Paris ter sido assinado (em dezembro de 2015), o FSB, órgão ligado ao G20, estabeleceu uma força-tarefa (Task Force on Climate-related Financial Disclosure – TCFD) que elaborou esse relatório, que apresenta uma série de recomendações e ações voluntárias a organizações de diferentes setores sobre a forma de relatar riscos e oportunidades climáticas em seus relatórios financeiros.
Se implementadas, as recomendações resultarão em maior transparência na divulgação dos atuais e potencias impactos financeiros relacionados aos riscos climáticos. Globalmente, 11 instituições financeiras (Itaú, Bradesco, ANZ, Barclays, Citi, National Australia Bank, Royal Bank of Canada, Santander, Standard Chartered, TD Bank Group e UBS), que representam 7 trilhões de dólares em ativos, já adotaram as recomendações da TCFD na busca por uma gestão mais eficaz e transparente, o que poderá impulsionar as empresas a assumirem o compromisso da divulgação mais clara e precisa dos aspectos que as impactam, além dos meios de mitigação e oportunidades de negócio nas ações pelo clima.
No Brasil, após o governo federal ter firmado um acordo global desafiador para o avanço no combate às mudanças do clima — comprometendo-se a reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2025 e em 43% até 2030, em relação aos níveis de 2005 — observa-se a mobilização de diversos setores empresariais para tratar tendências e antecipar futuras tributações mandatórias, para assim incorporarem um novo direcionamento na cadeia de valor, que poderá impactar positivamente os resultados dos negócios. Nesse sentido, os sistemas de precificação de carbono vêm sendo discutidos e considerados pelo governo brasileiro como importantes mecanismos para a promoção da redução de gases GEE.
Importante pontuar que, para minimizar os potenciais impactos relativos aos riscos climáticos, as empresas devem primeiramente compreendê-los segundo suas especificidades para, então, incorporar controles à gestão de riscos empresarial. Apesar dos compromissos já assumidos pelo setor financeiro, há um longo caminho na busca da efetiva gestão dos riscos climáticos.
Neste momento, questiona-se a maturidade das estratégias empresariais, que necessitam de efetiva absorção das questões de sustentabilidade. O que se pode afirmar com segurança é que a resposta das organizações diante dos efeitos das mudanças climáticas em seus negócios requer uma estratégia disruptiva de gestão de riscos.
*Camila Araújo é sócia da área de Risk Advisory da Deloitte; Rodolpho Simas é gerente de Risk Advisory da Deloitte e especialista em serviços de sustentabilidade; Ana Lia Touso é gerente de Risk Advisory da Deloitte e especialista em serviços de sustentabilidade
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