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O poder do perfil construtivo
Diante de cenário desafiador, fundos ativistas desenham estratégias menos agressivas de alocação de recursos

1Uma combinação de fatores criou, nos últimos anos, um cenário propício para a expansão da indústria de fundos ativistas nos Estados Unidos. Esse mercado teve um forte crescimento entre 2009 e 2014, passando de US$ 36,2 bilhões para US$ 120 bilhões no período. Contribuíram para o avanço o ambiente de baixas taxas de juros pós-crise de 2008 e o grande número de oportunidades nas companhias para a geração de valor para os acionistas. Favoreceram igualmente a indústria norte-americana de fundos ativistas o bom desempenho dos portfólios, o que criou um círculo virtuoso de crescimento (segundo a revista britânica Economist, do fim de 2008 até 2015 esses fundos tiveram rentabilidade média de 89%, enquanto os ganhos médios dos hedge funds não passaram de 50%).

Diante desse quadro, os fundos ativistas – tradicionalmente reconhecidos como agressivos – têm optado com maior frequência por um posicionamento construtivo. Um bom exemplo é o fundo Pershing Square, liderado por Bill Ackman. Sempre identificado com campanhas ousadas, hoje tem aproximadamente 40% do seu portfólio de US$ 15 bilhões alocados, com base em estratégias de engajamento construtivas, na Valeant Pharmaceuticals (30% do portfólio) e na Restaurant Brand International holding proprietária dos restaurantes Burger King e Tim Hortons (10%).

Também é cada vez mais comum a formação de fundos ativistas com características unicamente construtivas, caso do Hudson Executive Capital. Ele foi criado no início de 2015 por iniciativa de dois ex-executivos do banco JP Morgan e fechou parceria com 15 “CEO partners”, que vieram de renomadas companhias norte-americanas como Verizon Communications, Wells Fargo, Northwest Airlines Corp e com uma ex-dirigente da Securities and Exchange Commission (SEC).

A mudança de postura de muitos desses fundos não está relacionada simplesmente à obtenção de melhores resultados em comparação com a atitude mais agressiva de outros tempos – o novo posicionamento busca, na verdade, ampliar o universo de potenciais investimentos diante de um quadro com alguns complicadores:

– Escassez de opções para geração de valor que sejam de simples implementação no curto prazo (como a otimização da estrutura de capital), causada pelo forte crescimento do número de fundos ativistas e dos volumes de recursos administrados;
– existência de oportunidades complexas, cuja materialização exige mais tempo e alinhamento entre acionistas e executivos (no que se refere, por exemplo, a clareza sobre a estrutura de subsidiárias, revisão deplanejamento estratégico e vendas de ativos non-core);
– alternativas de geração de valor em companhias que já apresentam bom desempenho, com acionistas satisfeitos e apoiadores da gestão (nesse caso, os investidores ativistas são obrigados a se engajarem campanha mais construtiva).

No Brasil, as condições para fundos ativistas são diferentes, principalmente por causa da estrutura acionária da maioria das companhias, que têm um grupo de acionistas controlador. Nessa configuração, o bloco de controle não é obrigado a implementar as sugestões do ativista se não quiser. Nos Estados Unidos a situação é outra: a maioria das companhias tem capital pulverizado; assim, conquistando amplo apoio dos acionistas um ativista consegue impor a própria agenda.

Os casos de ativismo eram esporádicos no Brasil até 2006. A partir de então, os fundos passaram a buscar um engajamento mais construtivo, a fim de criar “avenidas” de crescimento e geração de valor. Essa mudança ocorreu como resposta ao forte aumentodo volume de recursos administrados pelos fundos e à relativa escassez de oportunidades. Fizeram parte desse processo fundos como Tarpon, Dynamo, Fama, Rio Bravo, Teorema e Guepardo; entre as companhias envolvidas destacaram-se BRF, Cremer, Odontoprev, Hering, Pão de Açúcar, Celesc, Rodobens, Portobello, Log-In Logística e Bematech.

Daqui para a frente, espera-se que sejam mais frequentes no Brasil os casos de ativismo, especialmente por causa da piora do desempenho das companhias e dasações decorrente das adversidades econômicas. Muitas empresasque vinham apresentandoum forte crescimento e que exibiam um robusto posicionamento competitivo têmagora osmodelos de negócio colocados em xeque.

Diante desse cenário e em adição aos fundos brasileiros mencionados, outros fundos de investimento fundamentalistas de longo prazo que raramente se engajaram em uma campanha ativista construtiva podem se tornar mais ativos diante das oportunidades existentes. Isso pode acontecer depois de acumularem conhecimento e de criarem laços de confiança com os controladores das companhias. É provável, entretanto, que muito desse alinhamento não se torne público, considerando o perfil discreto da maioria dos fundos no Brasil.


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